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A TRILHA - CRÍTICA
Faz toda a diferença
MARCELO NEGROMONTE
da Redação
Um filme dirigido por Danny
Boyle é certeza
de trilha rascante, dessas cujas
músicas estão
intrinsecamente ligadas às cenas
-como "Trainspotting" (96) e
"Por uma Vida Menos Ordinária"
(97). Tão melhor é uma trilha sonora quanto mais ela estiver tatuada ao filme, e não apenas for
uma mera coletânea.
"The Beach", a trilha, é a cereja
de "A Praia", o filme. Dá todo o
sentido, amarra bem o roteiro, é
música eletrônica respeitável (o
álbum é produzido por Pete
Tong, um dos melhores DJs de
house) e traz algumas surpresas.
Como os californianos do Sugar
Ray executando "Spinning
Away", de Brian Eno e John Cale
(!!!), com resultado agradável;
música inédita de New Order,
"Brutal", pastiche de "My Star",
de Ian Brown; os irados anglo-indianos do Asian Dub Foundation
em "Return of Django", do reggaeman Lee Perry, o Scratch.
Isso já valeria qualquer disco
pelo inusitado. E num contexto
fílmico é delicioso (ouvir o disco
antes de ver o filme é mister).
Mas ainda há a dupla Leftfield
em "Snakeblood", que acompanha as cenas iniciais antes de DiCaprio levar o primeiro baseado à
boca, antes de ele beber sangue de
cobra. Música contida, econômica, mas com a força, batida e escuridão peculiares ao duo.
O destruidor Hard Floor faz de
"Yeke Yeke", do africano Mory
Kante, um hard trance climático,
que sacudiu a última festa da "tribo" da praia, antecedida por "On
Your Own" (97), do Blur, em
pungente remix de William Orbit
-a sequência não é ocasional.
"Porcelain", de Moby, e a inédita "8 Ball", do Underworld -que
desta vez não fez nenhum "Born
Slippy"-, são perfeitas para a
ambientação praiana.
Em nenhum outro disco haverá
"Beached", do "trilheiro" Angelo
Badalamenti, com fala de DiCaprio, imperativa à Ewan McGregor em "Trainspotting" ("get a life, get a job" etc.). "Nunca recuse
um convite, nunca resista ao não-familiar. Apenas mantenha sua
mente aberta, procure experiências. Se doer, provavelmente vale
a pena. Você nunca acredita que
algo pode acontecer com você.
Quando acontece, você espera se
sentir diferente, mais visceral,
mais real. Eu estava esperando isso bater em mim." E entra, em espiral, o Orbital. Or-bi-tal.
Os créditos finais sobem com a
belíssima "Lonely Soul", produzida por Unkle, com Richard Aschcroft (ex-Verve). "Eu vou morrer
em um lugar onde não sabem o
meu nome." "A Praia" é isso.
Pena que "Out of Control", dos
Chemical Brothers, esteja no filme -numa cena em que tudo
realmente começa a sair do controle- e que o nome da dupla, só
nos agradecimentos do disco.
Avaliação:
Disco: The Beach
Gravadora: WEA
Quanto: R$ 20, em média
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