São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2000


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A TRILHA - CRÍTICA
Faz toda a diferença

MARCELO NEGROMONTE
da Redação


Um filme dirigido por Danny Boyle é certeza de trilha rascante, dessas cujas músicas estão intrinsecamente ligadas às cenas -como "Trainspotting" (96) e "Por uma Vida Menos Ordinária" (97). Tão melhor é uma trilha sonora quanto mais ela estiver tatuada ao filme, e não apenas for uma mera coletânea.
"The Beach", a trilha, é a cereja de "A Praia", o filme. Dá todo o sentido, amarra bem o roteiro, é música eletrônica respeitável (o álbum é produzido por Pete Tong, um dos melhores DJs de house) e traz algumas surpresas.
Como os californianos do Sugar Ray executando "Spinning Away", de Brian Eno e John Cale (!!!), com resultado agradável; música inédita de New Order, "Brutal", pastiche de "My Star", de Ian Brown; os irados anglo-indianos do Asian Dub Foundation em "Return of Django", do reggaeman Lee Perry, o Scratch.
Isso já valeria qualquer disco pelo inusitado. E num contexto fílmico é delicioso (ouvir o disco antes de ver o filme é mister).
Mas ainda há a dupla Leftfield em "Snakeblood", que acompanha as cenas iniciais antes de DiCaprio levar o primeiro baseado à boca, antes de ele beber sangue de cobra. Música contida, econômica, mas com a força, batida e escuridão peculiares ao duo.
O destruidor Hard Floor faz de "Yeke Yeke", do africano Mory Kante, um hard trance climático, que sacudiu a última festa da "tribo" da praia, antecedida por "On Your Own" (97), do Blur, em pungente remix de William Orbit -a sequência não é ocasional.
"Porcelain", de Moby, e a inédita "8 Ball", do Underworld -que desta vez não fez nenhum "Born Slippy"-, são perfeitas para a ambientação praiana.
Em nenhum outro disco haverá "Beached", do "trilheiro" Angelo Badalamenti, com fala de DiCaprio, imperativa à Ewan McGregor em "Trainspotting" ("get a life, get a job" etc.). "Nunca recuse um convite, nunca resista ao não-familiar. Apenas mantenha sua mente aberta, procure experiências. Se doer, provavelmente vale a pena. Você nunca acredita que algo pode acontecer com você. Quando acontece, você espera se sentir diferente, mais visceral, mais real. Eu estava esperando isso bater em mim." E entra, em espiral, o Orbital. Or-bi-tal.
Os créditos finais sobem com a belíssima "Lonely Soul", produzida por Unkle, com Richard Aschcroft (ex-Verve). "Eu vou morrer em um lugar onde não sabem o meu nome." "A Praia" é isso.
Pena que "Out of Control", dos Chemical Brothers, esteja no filme -numa cena em que tudo realmente começa a sair do controle- e que o nome da dupla, só nos agradecimentos do disco.


Avaliação:    


Disco: The Beach
Gravadora: WEA
Quanto: R$ 20, em média


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