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ANÁLISE
O que se vê por trás do nacionalismo na TV
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há uma misteriosa onda nacionalista no ar.
"Brasil. A gente se vê por aqui" é
o mote de vinhetas da Globo que
prestam homenagem a figuras tão
diversas como a socialite Eleonora Mendes Caldeira, o ator Luiz
Gustavo, políticos e secretários de
Estado. A campanha da emissora
afirma o papel de suas próprias
produções na cultura nacional e
se associa a personalidades.
Esse foi o espírito das reportagens especiais exibidas pelo "Jornal Nacional" na semana passada.
Ecoou também na palestra de
Ariano Suassuna. O escritor se
posicionou contra o império do
gosto médio e a massificação da
cultura. O discurso ortodoxo do
mestre contrastou com o contexto em que ele foi proferido: a abertura de um evento televisivo.
O autor de "O Auto da Compadecida", que adaptado para a TV
conseguiu sintetizar qualidade de
produção e quantidade de público, gerou polêmica entre as estrelas da TV e do cinema que participaram do seminário na PUC de
São Paulo. Afinal, por que tanto
nacionalismo?
A Folha de domingo trouxe pistas. A ótima reportagem de Elvira
Lobato sobre o endividamento
das empresas de mídia chama a
atenção para negociações em curso entre associações do setor e o
BNDES.
Dados comparativos indicam
que a dívida da Globo é maior que
a de outras emissoras. Empresários afirmam não ter conhecimento da proposta encaminhada
pelo setor ao governo. Desconfiado, um dirigente da Record se declara contra soluções que privilegiem uns em detrimento de outros.
Mônica Bergamo, no mesmo
dia, informa que a Globo busca a
parceria de cineastas contra a taxação de produtos audiovisuais
pretendida pelo Ministério da
Cultura. Fala-se ainda na luta para
garantir a manutenção do limite
atual de 30% de participação de
capital estrangeiro em empresas
de comunicação.
É no que não se vê que aparecem explicações para o que se vê.
O que não se vê é uma dívida em
moeda estrangeira que provavelmente será alongada e nacionalizada com fundos públicos. O que
se vê é a busca de apoios para legitimar a operação. Resta saber como e quanto essas articulações
garantirão o desejável fortalecimento e diversificação do cinema
e da TV brasileira.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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