São Paulo, quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010 |
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NINA HORTA Que tipo de frigideira devo usar?
COMO EX-FOLIONA convicta queria deixar aqui a minha queixa. Não é possível que a cobertura da festa, feita pela TV, seja tão insípida e igual. E no meio daquela multidão não acontece nada interessante? Nadinha mesmo? Não posso acreditar. Quero morrer quando uma jurada de todos os anos, premida a dizer alguma coisa, começa com voz monocórdica: "Está passando Xinximzão da Boca 3, filho de Adamastor da Sanfona, irmão de Lili Quebra-Poste". Muito elucidativo. E pronto. Um canal de TV que se dispusesse a fazer reportagem de verdade roubaria a audiência de todos os outros. As cartas dos leitores são mais divertidas. Olhem só esta que mostra a santa ingenuidade das foquinhas. E de um jornal baiano. No Carnaval! Passou a bola para mim. "Estou às voltas com uma matéria que pretende falar um pouco sobre cultura e comida, tocando em alguns aspectos, como rituais religiosos, fruição gastronômica, elementos culturais etc. Gostaria de pedir-lhe para responder algumas perguntas sobre o tema, já que acredito que uma entrevista sua enriqueceria bastante a matéria. Sei que estamos em pleno Carnaval, e você deve estar descansando (ou curtindo). Mas, como estamos cansados de saber, o jornal não pode pensar nisso quando estabelece um prazo para os repórteres... que se há de fazer? (suspiro). Por isso, peço que, se for possível, me envie as respostas até a Quarta-Feira de Cinzas. Meu editor vai ficar feliz e eu, nem preciso dizer, né? Feliz e mais que grata! Obrigada pela atenção (perdoe as brincadeiras; deve ser o espírito carnavalesco que ronda a Redação). Por que as comidas da infância imperam na memória afetiva? Qual o poder exercido pela comida sobre o ser humano? O que comemos (e como o fazemos) define o que somos? O que a culinária típica pode dizer a respeito de cada região? Comer e seduzir. Como se desenvolve a relação? Conexão com os deuses, limpeza do corpo, estímulo dos sentidos, símbolo de status, fruição... Afinal, o que é mesmo a comida para nós seres humanos? O que deseje acrescentar." Bom, minha filha, desejo acrescentar que esta defesa de tese não vai poder se juntar às suas cinzas de quarta-feira. Alalaô, ô,ô,ô! Cada uma... Este outro e-mail é do Sérgio Tegon, leitor assíduo, fotógrafo que quer saber de mim tecnalidades, se é que a palavra existe. "Adoro suas histórias e lendo sua "receita" dos camarões à provençal lembrei de uma questão que sempre aparece quando vou pegar uma frigideira. Quando você escreve "camarões limpos, frigideira quente, um pouco de manteiga e azeite. Acomodar os bichinhos...' - Que frigideira você usa? - Teflon, ferro fundido, ferro esmaltado, ferro enferrujado, aço... - É um tipo só, variando apenas o tamanho? - Ou cada comida um tipo? - Você gosta da wok e usa? Você poderia me ajudar? Quanta pergunta!! ABRAÇO!!" Ai, Sérgio, você é do tipo que gosta de receita certinha? Eu não sou. Até acho que já fui, quando era muito insegura e quando pensava que cozinhar era cozinhar bem. E não é. Cada um dá o que pode. E do seu jeito. Você tem um restaurante? Cobra de clientes? Não. Então pode escolher sua frigideira com o vagar de uma vida, o que é bem mais divertido. A cozinha é uma questão de autoconfiança, de coragem, que acaba levando à competência. Não é depois de competente que se cria confiança, é o contrário. Ninguém vai conseguir prever qual a faca que melhor encaixará no oco de sua mão, a panela que cozinhará melhor o seu feijão. A descoberta será feita no percurso quando você se apaixonará irremediavelmente por uma frigideirinha incrível que te acompanhará vida afora. Boa sorte. ninahorta@uol.com.br Texto Anterior: Tentações Próximo Texto: Comida: Edição limitada Índice |
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