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Personagens e cenários já sumiram
DA REPORTAGEM LOCAL
"Era outra marginalidade, outra polícia, outra Boca", resume
Percival de Souza, 59, 35 anos de
jornalismo policial, que acompanhou a "carreira" e esteve várias
vezes com Hiroito Joanides. Souza escreveu o prefácio original de
"Boca do Lixo", em 1977, que está
mantido na reedição.
"Havia um lado fascinante na
Boca. Lugares como o restaurante
Tabu, onde aliás se servia ótima
comida, em que conviviam cafetões, prostitutas e policiais. Por
outro lado, os criminosos mais
destacados faziam questão de estar na região. Foi nesse cenário
que Hiroito se destacou e se tornou lenda", lembra o jornalista.
Para Percival de Souza, o livro
"Boca do Lixo" é até hoje uma
contribuição forte, pelo retrato
que faz de personagens e cenários
que não existem mais. "Não me
lembro de alguém, do quilate criminal dele, escrevendo um livro
até então. Teve grande impacto."
Souza se viu em situação inusitada com Hiroito Joanides em
1977. "A Faculdade de Ciências
Sociais da USP nos chamou para
uma palestra. Mas ele era o conferencista, e eu, um debatedor", diverte-se o jornalista.
Souza tem uma explicação para
o fato de Hiroito ter 172 passagens
pelos DPs: "A polícia fazia prisões
em massa, sem dar satisfações, e
colocava todo mundo na cadeia
por uns dias. Depois soltava".
Uma das cenas inesquecíveis
presenciadas por Percival de Souza na Boca foi uma das muitas batalhas entre policiais e prostitutas.
"A polícia chegava com vinte ou
trinta camburões para prender
todo mundo. As prostitutas começavam a jogar das janelas penicos cheios de fezes e urina. Os policias, então, invadiam os apartamentos e quebravam as camas e
armários a golpes de marreta. Depois, jogavam tudo na rua."
Em 1977, quando Hiroito estava
preso há 12 anos, Percival de Souza recebeu a visita de Zenaide, sua
mulher. O rei da Boca queria que
o jornalista escrevesse um prefácio para o livro que havia concluído. Souza não pensou duas vezes.
"Nunca recusei pedido de preso.
Já fui em penitenciária fazer palestra, dar pontapé inicial em jogo
de futebol e até ser padrinho de
casamento."
Mas se Hiroito esperava apenas
elogios, recebeu também cutucões no prefácio de Souza: "Virulento com os meios de comunicação, principalmente porque lhe
imputaram certa feita a pecha de
parricida, Hiroito é extremamente suave com o delegado que o
acusou de ser o autor da morte do
próprio pai. (...) É inegável que
existem fatos lamentáveis. Mas é
inegável, também, que muitas
pessoas não lamentam esses fatos,
mas tão-somente a sua divulgação. Uma miopia social".
(IF)
BOCA DO LIXO. Autor: Hiroito de
Moraes Joanides. Editora: Labortexto
Editorial (tel. 0/xx/11/3664-7500).
Quanto: R$ 29,90 (264 págs.)
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