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CRÍTICA
Exposição traz fotos de Oiticica e d'Almeida
Experimentalismo é jogado entre amigos
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Quem foi Hélio Oiticica (1937-80)? A galeria Fortes Vilaça mostra três sequências da série de fotos "Momentos - Frames, Cosmococa". Ordena em linhas e colunas 56 das imagens produzidas em parceria com o cineasta Neville d'Almeida em 13 de março de 1973.
No início dos anos 70, Oiticica estava em Nova York. Ralava como tradutor enquanto não podia voltar ao Brasil. Recebeu duas visitas do amigo
d'Almeida em seu apartamento de Manhattan, para fazer
trabalhos com cocaína.
A precariedade da situação
detonou o processo criativo.
Juntaram alguns impressos à
mão: a biografia de Marilyn
Monroe, o livro "Grapefruit",
de Yoko Ono, "Seus Filhos", de
Charles Manson, o tijolo filosófico "O Que É uma Coisa", de
Heidegger, e a capa de um periódico retratando Luis Buñuel.
A bagunça foi incorporada ao
cenário. Vemos um cinzeiro
cheio de bitucas, um canivete
nacarado, uma caixa de fósforos, a borracha rosa, canetas,
lápis e uma tesoura.
Apresentaram, então, o pó.
Daí em diante vemos desfilar o
jogo da imaginação entre amigos artistas, esticando as linhas
brancas que desaparecem. Oiticica foi fotógrafo, d'Almeida,
desenhista. Quanto disso resta
após uma engarrafada noite de
vernissage, 30 anos depois?
Vemos agora ampliações contemporâneas, autorizadas
por anotações de Oiticica que "previam instalações públicas e
privadas, a impressão de fotos e pôsteres e a publicação de um
livro sobre a série", segundo a galeria. Mas a qualidade dos
produtos atuais deixa a precariedade de similares do artista
em favor de similares luxuosos.
A reavaliação de Oiticica impõe-se apoiada em sua extensa
repercussão em instituições e
revistas norte-americanas e européias durante a última década. Os interesses atuais multiplicam um legado efêmero e
obrigam o público ao distanciamento contemplativo. Está-se mais longe do artista do que apenas uma ponte aérea.
Momentos - Frames,
Cosmococa
Artistas: Hélio Oiticica e Neville
d'Almeida
Onde: galeria Fortes Vilaça (r.
Fradique Coutinho, 1.500, São Paulo,
tel. 0/xx/11/3032-7066)
Quando: de ter. a sex., das 10h às
19h; sáb., das 10h às 17h; até 17/4
Quanto: entrada franca
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