São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Sexo, moda & rock'n'roll

Maria Stella Splendore lança amanhã autobiografia em que fala sobre o romance que teve com Roberto Carlos em 1966, quando era casada com o estilista Dener; ela não sabe qual deles é o pai da menina nascida em 1967

IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A PINDAMONHANGABA (SP)

Todo santo dia, Maria Stella Splendore, 59, acorda às 3h30 da madrugada em sua casa cor-de-rosa. Sem despertador. Após exercícios de respiração, banho, chá e uma bolacha, a mulher de 1,70 m e 46 kg declarados glorifica Deus, recitando o mantra: "Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare".
Ela canta as 16 palavras 1.728 vezes, numa velocidade de quatro palavras por segundo, o que lhe garante trabalho concluído em umas duas horas. Depois, Splendore passeia entre as dez vacas sagradas que coabitam, com 110 seres humanos, a fazenda Nova Gokula, em Pindamonhangaba, interior de SP, e vai ao templo amarelo rezar um pouquinho mais.
No ano passado, porém, ela interrompeu diversas vezes os serviços religiosos para se dedicar a outro ritual: escrever sua autobiografia, que será lançada amanhã, das 19h às 21h, na livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/3170-4033).
O livro "Sri Splendore" (algo como bela Splendore, em sânscrito) tem um quarto de suas 114 páginas (R$ 38, edição independente) tomadas pelo movimento para a consciência de Krishna. Outra parte trata de sua vida nos anos 70, e a primeira, de sua infância. É o segundo capítulo, "Vida de Celebridade", com parcas 15 páginas, que promete alvoroço.
Ali descobrimos como a menina de 16 anos, de família milionária, se transformou na manequim exclusiva de Dener Pamplona de Abreu, estilista das estrelas nos anos 60.
Como se casaram em seguida, em cerimônia com cobertura ao vivo da TV. Como, semanas após o nascimento do primeiro filho, ela se envolveu com Roberto Carlos, em 1966. E como uma filha nasceu oito meses depois -e até hoje ninguém sabe se o pai foi o marido ou o amante.
"Estive com os dois na mesma época. Meu casamento com Dener já não funcionava. Nunca tivemos a intimidade que eu esperava. Nossa casa era invadida pela imprensa e pelos amigos que iam beber uísque até as 9h da manhã. E então conheci o Roberto", conta Maria Stella.
"As pessoas me viam com o Roberto e comentavam. Dener ficou sabendo." Se não soubesse por uns, saberia por outros.
Naquele ano, Roberto Carlos mostrou a Maria Stella diversas músicas do que seria seu sexto long play. Antecipou, por exemplo, "Querem Acabar Comigo", que, segundo ela, fazia referência ao estouro do "príncipe" Ronnie Von em contraposição ao rei da Jovem Guarda.

Esposa de um amigo meu
Mas o disco trazia também a auto-acusatória "Namoradinha de um Amigo Meu". Começa assim: "Estou amando loucamente/ A namoradinha de um amigo meu/ Sei que estou errado/ Mas nem mesmo sei como isso aconteceu".
"Não quero comentar sobre essa música", diz Maria Stella. "Perguntem para o Roberto." Mas, procurado, Roberto também não quis comentar. Após nova insistência, Maria Stella solta: "Sempre soube que era para mim. Ele nunca disse? Então, não sei", irrita-se.
"Contei tudo a Maria Leopoldina quando Dener morreu, em 1978. Ela tinha 11 ou 12 anos. Na época, não havia exame de DNA. Hoje, não faz mais sentido. Não somos filhos nem pais de ninguém, somos instrumentos. Pai é Deus", diz.
Maria Leopoldina, que preferiu não falar, segue os passos da mãe. É hare krishna e não tem preocupações financeiras. Única herdeira do clã Splendore (seu irmão morreu em 1993), casou-se três vezes, duas delas com homens de famílias igualmente ricas. Teve quatro filhos, sendo que a mais velha, de 20, deve dar à luz em abril, transformando Maria Leopoldina em avó aos 40 anos.

Gucci, Prada
Splendore diz que colocou um ponto final na história toda nos anos 80, quando se tornou hare krishna. "Virei celibatária, dei todas as minhas jóias para minha filha e fui viver com dois saris (roupa indiana)."
A renúncia terminou em 1992, quando se casou (pela quarta vez) com um devoto norte-americano. Moraram em diversos lugares, incluindo o Havaí. O casamento durou dez anos e, quando terminou, Maria Stella não teve forças para voltar à pobreza material.
"Cansei de usar sari por causa do estereótipo. Estou celibatária, mas desta vez não renunciei aos sapatos Gucci, por exemplo. O que importa é continuar pregando", diz, segurando uma bolsa Prada comprada no ano passado em Milão.
Na sexta passada, por causa da chuva que caía sobre Nova Gokula, ela renunciou momentaneamente aos Gucci. Mas escorregou na lama e não aprovou a novidade: "Mamãe já dizia, não pode andar de tênis quem nasceu para usar salto".


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