São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Miltinho volta em CD duplo

Coletânea com 28 faixas da fase Odeon marca os 80 anos do cantor, que se diz um "velho animado'

"Ele é bom demais", exalta Zeca Pagodinho, que chamou o ídolo para um dueto em 2006; seleção tem faixas ao lado de Elza Soares

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2006, Zeca Pagodinho realizou o sonho antigo de cantar com um de seus ídolos: o carioca Milton Santos de Almeida, o Miltinho. Para sacramentar o convite para uma participação no "Acústico MTV 2 -Gafieira", mandou um carro de luxo pegá-lo e ofereceu um lauto almoço em sua casa.
"Tinha peixe, camarão, carne... Falei para ele: "Tudo isso é só para mim? Não sou morto de fome'", lembra Miltinho, com o humor rascante que mantém aceso, aos 80 anos.
Em 31 de janeiro, quando completou a data redonda, ele fez um show comemorativo no Rio. Mas o melhor presente chegou há pouco, com "Miltinho - Samba e Balanço", CD duplo com 28 faixas da fase Odeon (1966-76) compiladas pelo pesquisador Rodrigo Faour.
"A fase RGE [1961-65] foi a de maior sucesso, mas é nos 16 álbuns e diversos compactos da Odeon [hoje EMI] que a gente vai encontrar os sambas menos manjados e não menos sensacionais de seu repertório", afirma Faour.
Não estão na lista, portanto, sucessos da primeira metade dos anos 60, como "Meu Nome É Ninguém", "Palhaçada" e "Mulher de 30" ("ela já deve estar com quase 100", exagera Miltinho), relançados em 2007 na série "Grandes Vozes", da Som Livre. Mas há gravações importantes, como as de "Laranja Madura" e "Nossos Momentos". E ainda, duetos com Elza Soares e Doris Monteiro, com quem fez, respectivamente, três e quatro LPs.
Há, sobretudo, um estilo de interpretar que pouco se encontra hoje: com muito suingue, balanço, malícia, ideal para os sambas sincopados e de gafieira. Miltinho bebeu na fonte do amigo Cyro Monteiro, mas criou um caminho próprio.
"A maioria canta na cabeça da nota. Eu canto dois tempos atrás da harmonia. Isso me dá a vantagem de errar e poder corrigir", explica Miltinho. "Ele é bom demais. Desde que comecei a gostar de música, ouço Miltinho e aprendo com ele", exalta Zeca.

45 pandeiros
Aos nove anos, Miltinho pediu ao pai um pandeiro de Natal. Diz que saiu tocando na hora, sem ninguém ensinar. Repetiu o pedido em outros Natais e aniversários e chegou a ter 45 pandeiros em casa. Embora, mais tarde, tenha feito prova para o Ministério da Fazenda e seja hoje um servidor público aposentado, ele passou boa parte das últimas seis décadas vivendo de ritmo, seja tocando ou cantando.
"Acabei nos três melhores conjuntos vocais da época", diz, referindo-se a Namorados da Lua, Anjos do Inferno e Quatro Ases e Um Coringa. Ativo e brincalhão, Miltinho não dá sinais de já ter sofrido um derrame, e ainda mostra disposição para cantar. "Parece que cabelo branco e bigode branco é que cantam, não a voz. Aparência vale mais do que qualidade. Só que eu sou um velho animado", diverte-se.


MILTINHO - SAMBA E BALANÇO
Artista:
Miltinho
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 28, em média



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