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Miltinho volta em CD duplo
Coletânea com 28 faixas da fase Odeon marca os 80 anos do cantor, que se diz um "velho animado'
"Ele é bom demais", exalta Zeca Pagodinho, que chamou o ídolo para um dueto em 2006; seleção tem faixas ao lado de Elza Soares
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2006, Zeca Pagodinho
realizou o sonho antigo de cantar com um de seus ídolos: o carioca Milton Santos de Almeida, o Miltinho. Para sacramentar o convite para uma participação no "Acústico MTV 2 -Gafieira", mandou um carro de luxo pegá-lo e ofereceu um lauto
almoço em sua casa.
"Tinha peixe, camarão, carne... Falei para ele: "Tudo isso é
só para mim? Não sou morto de
fome'", lembra Miltinho, com o
humor rascante que mantém
aceso, aos 80 anos.
Em 31 de janeiro, quando
completou a data redonda, ele
fez um show comemorativo no
Rio. Mas o melhor presente
chegou há pouco, com "Miltinho - Samba e Balanço", CD duplo com 28 faixas da fase Odeon
(1966-76) compiladas pelo pesquisador Rodrigo Faour.
"A fase RGE [1961-65] foi a de
maior sucesso, mas é nos 16 álbuns e diversos compactos da
Odeon [hoje EMI] que a gente
vai encontrar os sambas menos
manjados e não menos sensacionais de seu repertório", afirma Faour.
Não estão na lista, portanto,
sucessos da primeira metade
dos anos 60, como "Meu Nome
É Ninguém", "Palhaçada" e
"Mulher de 30" ("ela já deve estar com quase 100", exagera
Miltinho), relançados em 2007
na série "Grandes Vozes", da
Som Livre. Mas há gravações
importantes, como as de "Laranja Madura" e "Nossos Momentos". E ainda, duetos com
Elza Soares e Doris Monteiro,
com quem fez, respectivamente, três e quatro LPs.
Há, sobretudo, um estilo de
interpretar que pouco se encontra hoje: com muito suingue, balanço, malícia, ideal para
os sambas sincopados e de gafieira. Miltinho bebeu na fonte
do amigo Cyro Monteiro, mas
criou um caminho próprio.
"A maioria canta na cabeça
da nota. Eu canto dois tempos
atrás da harmonia. Isso me dá a
vantagem de errar e poder corrigir", explica Miltinho.
"Ele é bom demais. Desde
que comecei a gostar de música, ouço Miltinho e aprendo
com ele", exalta Zeca.
45 pandeiros
Aos nove anos, Miltinho pediu ao pai um pandeiro de Natal. Diz que saiu tocando na hora, sem ninguém ensinar. Repetiu o pedido em outros Natais e aniversários e chegou a
ter 45 pandeiros em casa.
Embora, mais tarde, tenha
feito prova para o Ministério da
Fazenda e seja hoje um servidor público aposentado, ele
passou boa parte das últimas
seis décadas vivendo de ritmo,
seja tocando ou cantando.
"Acabei nos três melhores conjuntos vocais da época", diz, referindo-se a Namorados da
Lua, Anjos do Inferno e Quatro
Ases e Um Coringa.
Ativo e brincalhão, Miltinho
não dá sinais de já ter sofrido
um derrame, e ainda mostra
disposição para cantar. "Parece
que cabelo branco e bigode
branco é que cantam, não a voz.
Aparência vale mais do que
qualidade. Só que eu sou um velho animado", diverte-se.
MILTINHO - SAMBA E BALANÇO
Artista: Miltinho
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 28, em média
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