São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008 |
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"Convivemos bem com o horror"
Doris Salcedo, uma das principais artistas latino-americanas, inaugura obra em Minas Gerais inspirada em campos de concentração
MARIO GIOIA ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO (MG) Campos de concentração, desaparecidos, vítimas da segregação e conflitos políticos. As dores do mundo são a força motriz da obra da colombiana Doris Salcedo, que inaugurou no último sábado seu primeiro trabalho permanente no Brasil com o pavilhão do Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG). "Neither" (nenhum) é uma instalação que utiliza o cubo branco típico das galerias de arte e o recobre em suas paredes internas com uma grade, às vezes exposta, às vezes recoberta por gesso. Ao percorrer o espaço, o espectador mergulha em um ambiente asfixiante, repetitivo e vertiginoso. Mas não deve se esperar que Salcedo crie obras literais e panfletárias. A principal artista plástica colombiana e um dos nomes latino-americanos com maior inserção internacional -seu trabalho "Shibboleth" é um rasgo de 167 metros no chão da Tate Modern, em Londres, e fica no museu até o próximo dia 6- não prescinde da forma em suas realizações. Recuperando-se de uma gripe e satisfeita com a instalação -"na montagem dessa obra em Londres, foi mais complicado"-, Salcedo, que dá raras entrevistas e "odeia com todas as forças" ser retratada, conversou com a Folha. Do Brasil, disse ter sido influenciada "pela modernidade" de Volpi, Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape. A seguir, outras observações da artista. Quando comecei a trabalhar nessa obra, me perguntava como podemos viver com o horror. Como, na década de 30 e 40, conhecíamos a existência dos campos de concentração, mas vivíamos uma vida normal e considerávamos que os campos de concentração não existiam. Nós estamos vivendo uma época igual. Sabemos da sua presença, eles se transformaram, mas não desapareceram. Convivemos com eles. Então, a idéia é pôr em um espaço branco, que é um espaço que remete à nossa intimidade, à nossa casa, que nos protege, justapor a idéia de extrema exterioridade, que é a grade. Impressionou-me muito que a origem do campo de concentração é um invento espanhol. O general Martínez Campos, em 1896, tem a idéia de acabar com a insurgência independentista em Cuba com um campo de concentração. Os britânicos a retomam na África do Sul na Guerra dos Bôeres [entre 1900 e 1902]. E é impressionante que o campo nasceu em Cuba e voltou a Cuba, neste momento, com Guantánamo. ENSAÇÕES OBRA NA TATE ARTISTA COLOMBIANA O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite do Centro de Arte Contemporânea Inhotim Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Isto é Salcedo Índice |
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