São Paulo, quarta-feira, 18 de março de 2009

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Estilista acrescentou humor e ousadia à moda

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA

Antes de ser o apresentador ferino e o político extravagante, Clodovil foi um dos principais estilistas brasileiros. Quando começou sua carreira, nos anos 50, a moda não era nada disso que se vê hoje. Não existia o prêt-à-porter -essa facção do design feito em escala industrial-, mas apenas ateliês, que criavam roupas exclusivas e sob medida, às vezes luxuosas.
"Quando Clodovil apareceu, era ainda a época das roupas mais clássicas, que ele fazia muito bem", diz a crítica e consultora de moda Costanza Pascolato, que conheceu o estilista no início dos anos 60. Ela conta que, naquela época, ele dividia com Dener a preferência das mulheres da elite brasileira.
A consultora de moda Gloria Kalil acrescenta Guilherme Guimarães. "Os três eram os mais brilhantes da nossa alta costura, mas Clodovil foi o mais ousado. No início dos anos 70, ele fez uma coleção belíssima, em que vestiu as modelos de saias de tafetá coloridas e camisetas justas estampadas com os símbolos dos times de futebol."
Para Gloria, Clodovil colocou um pouco de brasilidade na "alta costura" do país. "Ele acrescentou uma irreverência e um humor que não existiam. Com a mudança industrial, ele tentou fazer prêt-à-porter e até jeans, mas não deu certo. Acho que isso o deixou meio amargurado, e ele partiu para a televisão", diz.
Costanza recorda que tanto Clodovil quanto Dener -rivais no mundo da moda- ganharam notoriedade popular graças à TV. "É um fato muito atípico e extraordinário, pois ambos, que faziam roupas para gente rica, ficaram famosos entre as classes média e baixa."
Para o estilista Alexandre Herchcovitch, essa é a maior contribuição de Clodovil à moda. "A sua presença na TV, fazendo croquis mas também discutindo outros assuntos além da moda, contribuiu para que o público começasse a prestar atenção nos estilistas."
Uma das únicas vezes -ou a única vez- em que Clodovil pôs os pés na SP Fashion Week foi em junho de 2003, para ver um desfile de Herchcovitch.
"Ele criticava muito a SPFW e a moda brasileira. Achei interessante convidá-lo", conta o DJ Johnny Luxo. Mas Clodovil gostou do desfile e, no final, entregou a Herchcovitch um buquê de rosas brancas. "Ele tinha a língua afiada, mas era também muito animado, espirituoso e divertido", conta Johnny.
Era também "um tanto radical e paradoxal", na opinião do designer e pesquisador Marco Sabino ("Dicionário da Moda"). "Apesar disso, era um homem culto, que quis transmitir seu conhecimento ao público e buscou valorizar ao máximo o trabalho de moda feito no país."


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