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Estilista acrescentou humor e ousadia à moda
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
Antes de ser o apresentador
ferino e o político extravagante,
Clodovil foi um dos principais
estilistas brasileiros. Quando
começou sua carreira, nos anos
50, a moda não era nada disso
que se vê hoje. Não existia o
prêt-à-porter -essa facção do
design feito em escala industrial-, mas apenas ateliês, que
criavam roupas exclusivas e
sob medida, às vezes luxuosas.
"Quando Clodovil apareceu,
era ainda a época das roupas
mais clássicas, que ele fazia
muito bem", diz a crítica e consultora de moda Costanza Pascolato, que conheceu o estilista
no início dos anos 60. Ela conta
que, naquela época, ele dividia
com Dener a preferência das
mulheres da elite brasileira.
A consultora de moda Gloria
Kalil acrescenta Guilherme
Guimarães. "Os três eram os
mais brilhantes da nossa alta
costura, mas Clodovil foi o mais
ousado. No início dos anos 70,
ele fez uma coleção belíssima,
em que vestiu as modelos de
saias de tafetá coloridas e camisetas justas estampadas com os
símbolos dos times de futebol."
Para Gloria, Clodovil colocou
um pouco de brasilidade na "alta costura" do país. "Ele acrescentou uma irreverência e um
humor que não existiam. Com a
mudança industrial, ele tentou
fazer prêt-à-porter e até jeans,
mas não deu certo. Acho que isso o deixou meio amargurado, e
ele partiu para a televisão", diz.
Costanza recorda que tanto
Clodovil quanto Dener -rivais
no mundo da moda- ganharam notoriedade popular graças à TV. "É um fato muito atípico e extraordinário, pois ambos, que faziam roupas para
gente rica, ficaram famosos entre as classes média e baixa."
Para o estilista Alexandre
Herchcovitch, essa é a maior
contribuição de Clodovil à moda. "A sua presença na TV, fazendo croquis mas também
discutindo outros assuntos
além da moda, contribuiu para
que o público começasse a
prestar atenção nos estilistas."
Uma das únicas vezes -ou a
única vez- em que Clodovil
pôs os pés na SP Fashion Week
foi em junho de 2003, para ver
um desfile de Herchcovitch.
"Ele criticava muito a SPFW
e a moda brasileira. Achei interessante convidá-lo", conta o
DJ Johnny Luxo. Mas Clodovil
gostou do desfile e, no final, entregou a Herchcovitch um buquê de rosas brancas. "Ele tinha
a língua afiada, mas era também muito animado, espirituoso e divertido", conta Johnny.
Era também "um tanto radical e paradoxal", na opinião do
designer e pesquisador Marco
Sabino ("Dicionário da Moda").
"Apesar disso, era um homem
culto, que quis transmitir seu
conhecimento ao público e
buscou valorizar ao máximo o
trabalho de moda feito no país."
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