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Michael Craig-Martin põe representação na parede
Artista irlandês,
radicado em Londres,
é o selecionado da
Grã-Bretanha para
o evento em outubro
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
"Freeze generation" sim e
"Sensation generation" também. As duas
gerações de artistas, responsáveis pela revitalização da Grã-Bretanha no cenário da arte contemporânea mundial a partir do final
dos anos 80, estarão bem representadas na próxima Bienal de São
Paulo, entre 4 de outubro e 13 de
dezembro.
É que a Grã-Bretanha já escolheu
seu artista para a próxima edição
do evento: é o irlandês Michael
Craig-Martin.
Em entrevista exclusiva à Folha,
de sua casa em Londres,
Craig-Martin adiantou sua participação no evento. Disse que criará algo específico para o espaço da
Bienal, provavelmente uma "wall
paintings" (pintura realizada diretamente nas paredes do espaço expositor). Também falou sobre
suas influências e sobre o que pensa dos jovens artistas britânicos.
Folha - Você já tem idéia do que
apresentará
aqui no Bienal?
Michael
Craig-Martin -
Apresentarei
uma "wall
painting" ou
algum tipo de
instalação que
reúna desenho
e "wall painting". Estarei
indo passar alguns dias no
Brasil a partir
de 29 de março
para conhecer
São Paulo, encontrar algumas pessoas e
ver o pavilhão
da Bienal.
Qualquer coisa
que eu faça será específico
para o evento.
Folha - Há
quanto tempo você faz "wall paintings"? Seu trabalho era mais conceitual no início de sua carreira?
Craig-Martin - Eu fazia um trabalho mais conceitual nos anos 70,
mas no final daquela década eu comecei a fazer desenhos de parede,
que eram apenas em preto-e-branco. Decidi então tentar usar o que
eu estava fazendo anteriormente
em termos conceituais e em termos de imagens. Por isso passei de
objetos reais para imagens de objetos.
Folha - Por que você decidiu passar da arte conceitual para a pintura, aparentemente algo mais conservador?
Craig-Martin - No final dos
anos 70, me pareceu que a ênfase
inicial colocada pela arte conceitual havia se perdido e que questões de imagens e representação
não estavam sendo colocadas. Por
isso optei por trabalhar esse tipo
de temática, mas ainda sob o ponto de vista conceitual e não do
ponto de vista pictórico. Fiz meus
primeiros desenhos de parede nos
anos 80 e só nos anos 90 parti para
"wall paintings", que eram muito
mais "site specific" (obra criada
para um espaço específico).
Meu trabalho não é sobre o objeto, mas sobre como esses objetos
se transformam em significado,
em várias circunstâncias. E o significado não está no objeto em si,
mas na relação dele com outro objeto, com o espaço, com as escalas
e cores... Uso os objetos como se
fossem palavras de uma língua,
que assumem significados diferentes a partir da maneira em que
são colocadas.
Folha - Você usa computadores
na elaboração de suas imagens?
Craig-Martin - Tenho uma
grande quantidade de material armazenado no meu computador e é
com ele que faço os planos e composições. Todo o trabalho preliminar é feito no computador, que me
permite variações muito rápidas.
Não acredito que eu poderia fazer
algo se não fosse com o uso do
computador nos estágios iniciais
do trabalho.
Folha - Esse planejamento com a
ajuda do computador não aproxima seu trabalho de pintor de seu
trabalho como artista conceitual?
Craig-Martin - De fato, acho
que o computador é uma ferramenta libertadora, que me torna
mais conceitual, mas também
mais emocional, algo que me dá
maior confiança e coragem. Me
sinto mais engajado e próximo. Eu
acho que, honestamente, meu trabalho progrediu (risos) desde que
eu comecei a usar o computador.
Ele me deu mais liberdade.
Folha - O que você acha dos jovens artistas britânicos? Você foi
professor de vários deles...
Craig-Martin - A nova geração é
muito interessante. Os jovens artistas britânicos tem um senso
muito forte de cultura pop. Você
pode ver isso na música, na moda e
em outros setores. Eles usam isso
como uma fonte muito importante em seus trabalhos. Isso conecta
o que eles estão fazendo com a experiência do dia-a-dia e os tornam
reconhecíveis. Isso os diferencia
daquilo que se produz na Alemanha, por exemplo, que tem uma
cultura pop muito limitada.
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