São Paulo, quarta, 18 de março de 1998

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Michael Craig-Martin põe representação na parede


Artista irlandês, radicado em Londres, é o selecionado da Grã-Bretanha para o evento em outubro

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

"Freeze generation" sim e "Sensation generation" também. As duas gerações de artistas, responsáveis pela revitalização da Grã-Bretanha no cenário da arte contemporânea mundial a partir do final dos anos 80, estarão bem representadas na próxima Bienal de São Paulo, entre 4 de outubro e 13 de dezembro.
É que a Grã-Bretanha já escolheu seu artista para a próxima edição do evento: é o irlandês Michael Craig-Martin.
Em entrevista exclusiva à Folha, de sua casa em Londres, Craig-Martin adiantou sua participação no evento. Disse que criará algo específico para o espaço da Bienal, provavelmente uma "wall paintings" (pintura realizada diretamente nas paredes do espaço expositor). Também falou sobre suas influências e sobre o que pensa dos jovens artistas britânicos.

Folha - Você já tem idéia do que apresentará aqui no Bienal?
Michael Craig-Martin -
Apresentarei uma "wall painting" ou algum tipo de instalação que reúna desenho e "wall painting". Estarei indo passar alguns dias no Brasil a partir de 29 de março para conhecer São Paulo, encontrar algumas pessoas e ver o pavilhão da Bienal. Qualquer coisa que eu faça será específico para o evento.
Folha - Há quanto tempo você faz "wall paintings"? Seu trabalho era mais conceitual no início de sua carreira?
Craig-Martin -
Eu fazia um trabalho mais conceitual nos anos 70, mas no final daquela década eu comecei a fazer desenhos de parede, que eram apenas em preto-e-branco. Decidi então tentar usar o que eu estava fazendo anteriormente em termos conceituais e em termos de imagens. Por isso passei de objetos reais para imagens de objetos.
Folha - Por que você decidiu passar da arte conceitual para a pintura, aparentemente algo mais conservador?
Craig-Martin -
No final dos anos 70, me pareceu que a ênfase inicial colocada pela arte conceitual havia se perdido e que questões de imagens e representação não estavam sendo colocadas. Por isso optei por trabalhar esse tipo de temática, mas ainda sob o ponto de vista conceitual e não do ponto de vista pictórico. Fiz meus primeiros desenhos de parede nos anos 80 e só nos anos 90 parti para "wall paintings", que eram muito mais "site specific" (obra criada para um espaço específico).
Meu trabalho não é sobre o objeto, mas sobre como esses objetos se transformam em significado, em várias circunstâncias. E o significado não está no objeto em si, mas na relação dele com outro objeto, com o espaço, com as escalas e cores... Uso os objetos como se fossem palavras de uma língua, que assumem significados diferentes a partir da maneira em que são colocadas.
Folha - Você usa computadores na elaboração de suas imagens?
Craig-Martin -
Tenho uma grande quantidade de material armazenado no meu computador e é com ele que faço os planos e composições. Todo o trabalho preliminar é feito no computador, que me permite variações muito rápidas. Não acredito que eu poderia fazer algo se não fosse com o uso do computador nos estágios iniciais do trabalho.
Folha - Esse planejamento com a ajuda do computador não aproxima seu trabalho de pintor de seu trabalho como artista conceitual?
Craig-Martin -
De fato, acho que o computador é uma ferramenta libertadora, que me torna mais conceitual, mas também mais emocional, algo que me dá maior confiança e coragem. Me sinto mais engajado e próximo. Eu acho que, honestamente, meu trabalho progrediu (risos) desde que eu comecei a usar o computador. Ele me deu mais liberdade.
Folha - O que você acha dos jovens artistas britânicos? Você foi professor de vários deles...
Craig-Martin -
A nova geração é muito interessante. Os jovens artistas britânicos tem um senso muito forte de cultura pop. Você pode ver isso na música, na moda e em outros setores. Eles usam isso como uma fonte muito importante em seus trabalhos. Isso conecta o que eles estão fazendo com a experiência do dia-a-dia e os tornam reconhecíveis. Isso os diferencia daquilo que se produz na Alemanha, por exemplo, que tem uma cultura pop muito limitada.



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