São Paulo, quarta, 18 de março de 1998

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Burt Reynolds renasce com "Boogie Nights"

KAREN THOMAS
do "USA Today"

Deve ser o lugar certo: portão de ferro trancado com as iniciais BR e um sinal de "proibida a entrada".
A voz no interfone não é a dos habituais sicofantes. É inconfundível. "Entre", diz Burt Reynolds.
O ator de 61 anos, cujo papel de diretor de filmes adultos em "Boogie Nights" já conquistou vários prêmios, teve seus maus momentos. Mas agora o ícone dos 70 está abalando Hollywood devido aos elogios por seu talento como ator.
Depois de ganhar o Globo de Ouro, ele se prepara para o Oscar, ao qual concorre na categoria melhor ator coadjuvante.
No seu pico, duas décadas atrás, Reynolds foi a principal atração das bilheterias por cinco anos consecutivos, com reputação de egomaníaco mulherengo propenso a acessos de ira.
O pior aconteceu em 1993, quando ele tartamudeou em rede nacional de TV uma explicação sobre seu divórcio contencioso de Loni Anderson, fazendo diversas acusações contra ela e revelando os mais íntimos detalhes da vida em comum do casal.
Depois disso veio a falência.
Hoje, Reynolds parece ter aprendido com a experiência. Suas declarações impensadas e insultuosas agora são menos agressivas.
Ele agradece a todos. Admira tanta gente. Em um momento, se diz indigno de tanta atenção. No seguinte, expressa cuidadosamente sua raiva para com a cidade que abandonou o ator nomeado para o Oscar, ganhador do Emmy, campeão de bilheteria.
"Eu não achei que precisasse provar que podia interpretar", diz o astro, que ganhou prêmios por "Amargo Pesadelo". "Pensei que já o tivesse feito."
Depois de mudar de agente -que não teve nada a ver com a conquista do personagem em "Boogie Nights"-, ele conseguiu um papel em "Mystery Alaska", filme de um grande estúdio que começou a ser filmado em Calgary. Reynolds faz um técnico de hóquei.
Pessoas que ele admirou por muito tempo subitamente estão falando sobre ele. Alguém recentemente perguntou a Tom Hanks: "O que mais o deixa feliz?" Reynolds diz: "E ele respondeu: "O fato de que Burt Reynolds está de volta'. Bom, não conheço Tom Hanks. Jamais o encontrei. Mas fiquei tão comovido".
Toda essa atenção o apanhou desprevenido e ele está tomando muito cuidado quanto à sua próxima jogada. Hollywood adora ver os tropeços dos poderosos.
Os jatos privados e pilotos particulares do passado se foram. Em junho de 1996, ele pediu falência declarando dívidas de mais de US$ 10 milhões. O Burt Reynolds Dinner Theater, de Jupiter, Flórida, está tendo sua hipoteca executada. Sua querida fazenda está à venda.
A casa do caseiro lhe serve de escritório. Os gramados luxuriantes estão silenciosos. Não há criados à vista. Reynolds atende seu telefone, apanha suas roupas na lavanderia e vai com seu próprio carro ao aeroporto. Serve seu chá.
E Burt Reynolds afirma que ainda serve como seu próprio dublê. Há poucas semanas, diz, caiu sobre um carro. "Eu disse a eles, "olha, eu posso fazer. Ainda posso cair. Meu problema é não conseguir levantar. Mas o personagem está morto, de qualquer jeito'."



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