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VERNISSAGE
Artista plástico inaugura hoje à noite duas mostras simultâneas, nas galerias Luisa Strina e André Millan
Tunga atrai e distrai com seus ímãs
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Tunga voltou atrás para poder
avançar. Na verdade, mudou para
continuar o mesmo. É assim, movendo-se entre paradoxos, caminhando em cacos de vidro, correndo riscos, que o artista plástico
inaugura hoje, simultaneamente,
duas mostras na cidade, nas galerias Luisa Strina e André Millan.
Na primeira, exibe esculturas de
mesa realizadas com objetos de vidro, ímã e limalha de ferro. Na segunda, realizou uma instalação
mais rica e potencial, incluindo feltros, esponjas, fios de náilon, escovas e outros elementos.
Essas formas e materiais não são
novidade na obras do artista, que
possui um fértil vocabulário de
imagens, capaz de se reproduzir
sem se repetir.
Assim como Chacrinha, que
anunciava o final de cada segmento de seu programa com um "roda,
roda, roda e avisa", Tunga pauta
sua produção na circularidade,
que atualiza os elementos e lhes dá
novos significados.
"Não é necessário criar imagens
novas, pois a exaustão das imagens
na arte contemporânea é notória.
Revelar novas possibilidades para
essas imagens é uma tática do meu
trabalho que tem como estratégia
revelar "o estranho no familiar'",
disse Tunga, citando a definição
poética de Bataille. Logo depois citará, com conhecimento, Wittgenstein, Duchamp, Marco Polo e
outros, para embaralhar ainda
mais as quase-certezas de sua obra.
Também como o Velho Guerreiro, Tunga não veio para explicar,
mas para confundir. "O artista não
precisa explicar pelas vias baratas
do saber", disse, propondo uma
aproximação maior de sua obra à
poesia e ao jazz que à lógica.
Seus ímãs, por exemplo, já presentes em "TaCaPe" (86), não funcionam como banais focos de atração, mas como metáforas do que é
passageiro. É o desejo de não soldar duas peças de ferro que o leva a
juntá-las com ímã.
O ímã é ainda uma referência aos
relatos de viagem de Marco Polo.
Neles, mais que fenômeno físico, o
magnetismo que lhe desorientava
as bússolas tinha conotações de
loucura, desorientação e poesia.
"Toda essa instabilidade me interessa. A necessidade de ícones é
uma característica européia. A cultura brasileira é dinâmica e estratégica. Aqui as coisas não colam,
mas se encontram. Só acho estranho que a sociedade brasileira não
assuma o transitório como uma
característica definitiva de nossa
cultura, já que ela é o lugar confortável dos paradoxos", disse.
Mostras: trabalhos recentes de Tunga
Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João
Manuel, 974A, tel. 011/280-2471, Jardins) e
galeria André Millan (r. Mourato Coelho, 94,
tel. 011/852-5722, Pinheiros)
Vernissages: hoje, às 19h na Luisa Strina e
às 21h na André Millan
Quanto: US$ 15 mil (esculturas) e preço
indefinido para a instalação
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