São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2001

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Cisne Negro estréia coreografia de Rui Moreira, integrante do Grupo Corpo nos anos 90

Do corpo para fora

Ana Ottoni/Folha Imagem
O coreógrafo Rui Moreira, autor de "Trama", feita por encomenda para a Cisne Negro Cia. de Dança, que inicia temporada


ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

No elenco homogêneo do Grupo Corpo, Rui Moreira conseguiu ser exceção. Com brilho de solista, sempre destacou-se do conjunto para encarnar o que a mídia francesa passou a identificar como o bailarino-fetiche da companhia de Belo Horizonte. Desligado do Corpo desde 1999, quando decidiu trocar a condição de criatura pela de criador, Moreira estréia na sexta-feira sua nova coreografia: "Trama", encomendada pelo grupo Cisne Negro, de São Paulo, que estará em temporada no teatro Alfa até domingo.
Com a agenda cada vez mais agitada, Moreira também está em cartaz em Minas Gerais, onde o elenco que fundou em 1993, o Será Que?, vem se apresentando nesta semana em cidades como Itabira, Governador Valadares e Ipatinga.
A partir de 3 de maio, ele ainda marca presença em Nova York, no evento "France Moves", que, da próxima semana em diante, mostrará, em diferentes teatros de Manhattan, dez das mais significativas companhias da dança contemporânea francesa, entre outras as de Maguy Marin, Angelin Preljocaj, Boris Charmatz, José Montalvo e Philippe Decouflé.
Nos quatro dias que se apresentará no Danspace Project at St. Mark's Church de Nova York, Moreira reforçará a parceria que mantém na França com Fred Bendongué, diretor da Compagnie Azanie.
Dispostos a discutir a mestiçagem cultural, Rui e Bendongué criaram em conjunto, dois anos atrás, o espetáculo "D'une Rive à l'Autre" ("De uma Margem à Outra"), agora incluído na programação do "France Moves".
"Em breve, Fred virá ao Brasil para criarmos o roteiro de nossa próxima criação, programada para estrear em 2002", diz Moreira sobre o novo espetáculo com Bendongué, com o qual pretende manter o intercâmbio. Aos 37 anos, Moreira renova sua trajetória com atuações múltiplas.
Nascido no bairro paulistano da Barra Funda, Moreira afirma que hoje, como coreógrafo, faz uma fusão autobiográfica das influências que absorveu desde a infância.
Filho único de uma costureira e de um pintor de paredes, Moreira cresceu em meio às manifestações populares que, décadas atrás, marcavam mais intensamente o cotidiano de São Paulo. "Minha família sempre gostou de Carnaval, festas juninas, procissões, além do samba paulista, que fazia parte da casa dos crioulos", diz.
Acompanhado dos primos, Moreira frequentava as quadras das escolas de samba Camisa Verde e Branco e Vai-Vai. "Eu não sabia que dança podia ser uma atividade profissional. Namorava uma garota cuja irmã fazia balé quando, no final de 1979, me chamou atenção uma placa que dizia "balé gratuito"."
Fixada em uma casa no bairro da Água Branca, a tal placa referia-se a um projeto do governo estadual, que oferecia bolsas de estudos para teatro e dança. Curioso, Moreira inscreveu-se nos testes, mas foi reprovado. "Acabei trabalhando na secretaria da escola, mas, pouco a pouco, tive acesso às aulas de música erudita, teatro e dança. Sumaika Pratchovska, a diretora da escola, que até hoje não sei se era brasileira, me abriu um universo novo."
Dali em diante, Moreira iniciou sua formação acadêmica. "Em busca de base teórica, passava horas na biblioteca Mário de Andrade, onde descobri um setor de livros sobre dança."
Na época, durante uma temporada do Ballet de Stuttgart no Teatro Municipal, ficou impressionado ao ver tantos homens dançando balé clássico. Já convencido de sua vocação, ingressou na Escola Municipal de Bailados, quando o então diretor Klauss Vianna criou um curso noturno para atrair rapazes sem tempo de estudar durante o dia.
O passo seguinte foi um estágio no grupo Cisne Negro, que agora o recebe novamente, como um dos coreógrafos mais promissores da dança contemporânea brasileira.


TRAMA - Coreografia de Rui Moreira, com Cisne Negro Cia. de Dança.
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722; tel. 0800-558191).
Quando: sexta e sábado, às 21h; domingo, às 18h.
Quanto: de R$ 20 a R$ 40.





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