São Paulo, quinta-feira, 18 de abril de 2002

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POESIA

Músico lança seu nono trabalho literário, "Palavra Desordem", com uma reunião de "propagandas poéticas"

Livro de Arnaldo Antunes "tira a roupa" dos slogans

DA REPORTAGEM LOCAL

Os slogans estão nus. O gênero de frases curtas, normalmente usadas na publicidade ou na política, perdeu os grossos casacos dos produtos ou poderes.
É com esse "striptease" conceitual que o músico, poeta e artista multimídia Arnaldo Antunes está de volta ao universo dos livros.
"Palavra Desordem", que a editora Iluminuras lança hoje em São Paulo, reúne mais de cem frases curtas que o próprio autor diagramou em letras vazadas brancas sobre o branco do papel.
Nono livro de Antunes, que estreou na literatura em 1983, com "OU É", o volume traz as criações mais concisas feitas nessa trajetória, que vem caminhando na rota do maior número de palavras para o menor.
Algumas páginas do trabalho novo, por exemplo, são ocupadas com apenas uma palavra (caso de "rejuvelhecer" ou "superficialma") ou com frases curtas, como "demasia vaza".
Em um primeiro momento, o livro pode dar idéia de que o pessimismo tomou conta do ex-titã, que escreve coisas como "a morte é certa", "a vida é curta", "o tempo não compensa" ou "o vento vai levar tudo".
Antunes diz que não é essa a intenção. "É uma leitura das muitas possíveis. Mas o livro me parece bem otimista, bem libertário", exprime o poeta. A idéia original de "Palavra Desordem", explica ele, era a de criar uma espécie de "livro de convívio".
"Não é um trabalho para ser lido do começo ao fim. Há um aspecto lúdico no modo como trato a linguagem que também aparece no modo como o leitor pode se relacionar com o livro. Ele pode funcionar, por exemplo, como um oráculo, que, aberto em alguma página aleatória, dá uma resposta íntima ao que o leitor gostaria de perguntar."
Antunes, que diagrama todos os seus livros, diz que do ponto de vista gráfico (desenvolvido unha e carne com a criação do texto) a inspiração para o projeto veio da linguagem dos cartazes de rua. "Diagramei como se cada página fosse um cartaz."
Quase todo o conjunto de frases é inédito, mas o artista incluiu também uma ou outra sentença já explorada em canções solitárias ou feitas nos seus dez anos de Titãs, por exemplo, "contra o que for hereditário", da música "Hereditário".
"A experiência com os Titãs fez parte da minha formação expressiva, como músico, como comportamento de palco, também na hora de escrever", diz o músico, que apresenta seu trabalho musical no Centro Cultural Banco do Brasil (tel. 0/xx/11/3113-3651), na tarde de domingo, em São Paulo.
Em "Palavra Desordem", Antunes também remete a outra de suas principais fontes, a poesia concretista dos irmãos Campos. Uma das grandes discussões propostas pelo movimento poético, a da relação entre conteúdo e forma, está lembrada, por exemplo, no par de frases "conteúdo é forma" e "forma é conteúdo".
(CASSIANO ELEK MACHADO)


PALAVRA DESORDEM - De: Arnaldo Antunes. Editora: Iluminuras. Quanto: R$ 32 (208 págs.). Lançamento: hoje, a partir das 20h. Onde: Blen Blen Brasil (r. Inácio Pereira da Rocha, 520, Pinheiros, São Paulo, tel. 0/xx/ 11/3815-4999).



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