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São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2003

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DISCOS/LANÇAMENTOS

Mensageiro do jazz


Art Blakey dá o recado do ritmo no álbum "A Night in Tunisia", que abre coleção


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Existem pelo menos dois sentidos diferentes bem demarcados para a palavra mensageiro. Se por um lado é o que comunica, entrega mensagens, esparrama a notícia no ar, por outro é o precursor, o que anuncia, aquele que faz presságios.
Art Blakey foi tudo isso, com distinção e louvor.
Nascido na norte-americana Pittsburgh em 1919, o baterista começou a dar o recado já nos primeiros anos 40, emprestando seu ritmo para a pianista Mary Lou Williams. Outras grandes bandas vieram, como as de Fletcher Henderson e Billy Eckstine.
Mas foi na década de 50 que a mensagem ganhou corpo. Em parceria com Horace Silver, pianista ainda na ativa, Blakey criou o Jazz Messengers, um dos principais grupos da história jazzística.
Foi sob o comando das baquetas de Bu, apelido do baterista, que a árvore genealógica do jazz viu crescer o galho do gênero chamado de hard bop.
Uma das "mensagens" iniciais desse estilo está chegando agora, direto de 1957, para os aparelhos de CD brasileiros.
"A Night in Tunisia" não é o melhor das dezenas de discos dos Jazz Messengers de Blakey. Talvez não seja nem mesmo o melhor "A Night in Tunisia" do próprio grupo. Principal intérprete desse tema clássico do jazz, ao lado de seu criador, Dizzy Gillespie, o baterista gravou diversos trabalhos com esse título, o mais notável deles com o selo da Blue Note.
O disco que chega agora ao Brasil, porém, pelo selo Bluebird (da gravadora BMG), traz para as combalidas prateleiras de CDs nacionais de jazz, com grande qualidade, as principais qualidades do mensageiro Blakey.
Um test-drive nos dois primeiros minutos do álbum explicam isso melhor do que a melhor explicação. Sozinho, ele e sua bateria, o jazzista conta o que é a noite, o que é a África, e narra o modo como as tribos africanas, noite adentro, se comunicavam na linguagem do tambor.
Desconte daí os eventuais exageros deste jornalista e o ouvinte estará diante de uma peça inesquecível de arte e de comunicação musical.
Não é tudo, claro. Termina o solo de Blakey, aula de como um baterista pode levar adiante diversos padrões rítmicos ao mesmo tempo, e entram em cena outras palestras de grande eloquência.
O sax tenor de John Griffin e o alto de Jackie McLean (creditado na capa do disco como Ferris Benda, por questões contratuais), assessorados pela cozinha de Art, dão, por exemplo, a receita do que é hard bop.
Se o bebop, movimento anterior, dera o molde do jazz moderno, escancarando o fato de que era no improviso que morava a essência jazzística, o hard bop vinha para relembrar que sem suingue, ritmo, alma, o improviso não era mais que improviso. E são essas as marcas dos sopros de McLean e Griffin.
É apenas o começo dos caminhos de "A Night in Tunisia". A mensagem está dada.


A Night in Tunisia    
Artista: Art Blakey and the Jazz Messengers
Lançamento: Bluebird/BMG
Quanto: R$ 28, em média



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