São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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TELEVISÃO

Programa pretende derrubar preconceitos sociais ao colocar jovens vivendo situações opostas às do seu dia-a-dia

"Reality show" confronta realidades

CLÁUDIA CROITOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO

Exemplos de como a televisão e a mídia em geral podem, sim, gerar boas coisas para crianças e jovens não vão faltar na 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, que começa amanhã no Rio de Janeiro.
Serão quase duas centenas de palestrantes que falarão sobre qualidade da produção, relacionamento dos jovens com a mídia, receitas de sucesso em programação. Estarão presentes nomes como Dorothy Prior, diretora da programação infantil da rede BBC de Londres e criadora de um canal específico para crianças de três a seis anos, e Arlene Klasky, criadora do desenho animado "Rugrats" ("Os Anjinhos"), sobre uma turma de bebês que virou sucesso de audiência e bilheteria no mundo inteiro.
Há até quem conseguiu produzir um "reality show" educativo, como Dixie Feldman, diretora do canal americano The N, braço da rede Nickelodeon voltado para adolescentes.
Ela é uma das criadoras de "A Walk in Your Shoes" (Uma Caminhada nos Seus Sapatos), que não dá prêmio em dinheiro nem a chance de encontrar um marido, mas tem como objetivo acabar com preconceitos, dos participantes e, por tabela, da audiência.
"Nosso objetivo ao criar o programa era tirar preconceitos que os adolescentes têm com quem é diferente deles", disse Feldman à Folha, por telefone, de seu escritório em Nova York. "Queremos mostrar que o diferente não é necessariamente ruim."
"A Walk in Your Shoes" existe desde 1999, mas tomou novo fôlego após os atentados terroristas de 11 de setembro. "Os americanos começaram a nutrir um preconceito muito grande pelos árabes e mulçumanos em geral. Havia muita desinformação, que gerava discriminação", disse a diretora. "Então fizemos o programa com uma menina cristã que passou a viver na casa de uma família muçulmana."
"Vivendo com eles, ficando amiga da menina muçulmana que fazia parte da família, ela descobriu que tinha muitas idéias erradas sobre essas pessoas. E o público também pôde descobrir isso", diz Feldman.
O programa ainda levou um garoto norte-americano para viver na Jordânia e um menino jordaniano para viver com uma família norte-americana.

Deficiente físico
Mas nem só de diferenças culturais vive "A Walk in Your Shoes". Em um dos episódios, um adolescente passa a conviver com um garoto em cadeira de rodas -e, para isso, também passa a se locomover em uma, tentar jogar basquete, pegar ônibus etc. Em outro, uma esbelta líder de torcida, com a ajuda de maquiagem e de uma roupa especial, "engorda" muitos quilos para passar alguns dias vivendo como alguém não tão bonita e atraente quanto ela.
"A garota foi em um shopping e começou a ver que recebia tratamento diferente, que algumas vendedoras de lojas a ignoravam", afirma Feldman, que diz que um de seus episódios preferidos é o que mostrou a vida de um garoto portador do vírus HIV. "Mostramos que uma pessoa infectada com o vírus pode levar uma vida como qualquer outra."
Já houve até um episódio em que um garoto negro, cantor de rap, "vestiu os sapatos" de um branco, cantor de country. "São dois tipos que dificilmente iriam andar juntos. Mas no final ambos declararam que passaram a ter muito mais respeito pelo tipo de música do outro", conta.
Apesar do formato -colocar pessoas comuns (e filmá-las) em situações estranhas a elas, sem atores e sem roteiro-, Feldman reluta em classificar o programa como um "reality show". "Nunca pensei em "In Your Shoes" dessa forma, pois os "reality shows" não costumam acrescentar nada para quem assiste."
Para ela, os canais de TV menosprezam os jovens ao achar que o que eles querem assistir são apenas "novelinhas adolescentes só com meninos e meninas lindos, brancos e ricos, na qual fazem o que querem e os pais nunca estão por perto. Não têm os tipos de problemas que os adolescentes têm de verdade".


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