São Paulo, sábado, 18 de abril de 1998

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Góes se preparou para Nelson por 15 anos

da Sucursal do Rio

O diretor Moacyr Góes passou seus 15 anos de carreira se "preparando" para fazer um texto de Nelson Rodrigues.
"Sempre tive um encantamento grande pela obra dele. Mas é preciso mergulhar no Nelson sem muita sofreguidão. Tenho a impressão que na verdade estive aguardando todo esse tempo para presenciar o primeiro encontro entre Nelson e Marília, justamente quando ela completa 50 anos de carreira", disse Góes.
Para o diretor, "Toda Nudez Será Castigada" foi "uma boa escolha para marcar esse encontro" porque, segundo ele, é o texto de Nelson Rodrigues onde se encontram todas as questões temáticas que povoam a obra dele: sexo, morte, incesto, obsessão, traição, sublimação por meio do sacrifício, referência a uma sociedade repressora.
"O Nelson fala de temas fundamentais da civilização ocidental, tudo isso traduzido num universo suburbano, o que o faz acessível. Por isso muitas vezes ele incomoda, fala muito de perto sobre questões humanas profundas."
A carreira de "Toda Nudez Será Castigada" estreou, em 1965, cortada por aplausos em todas as cenas individuais, ovação de pé ao fim do espetáculo e, a partir daí, seis meses seguidos no teatro Serrador e excursão pelo Brasil, como descreve o escritor Ruy Castro no livro "O Anjo Pornográfico", sobre a vida de Nelson Rodrigues.
Mas antes disso o papel de Geni, escrito para Fernanda Montenegro, que o recusou, foi também desprezado pelas atrizes Tereza Rachel e Gracinda Freire, que disse em uma entrevista: "Li três páginas de 'Toda Nudez Será Castigada', e o personagem principal me repugnou".
"Geni é a personagem feminina mais arrebatadora e marcante da dramaturgia brasileira. Para fazê-la bem é preciso saber ir da delicadeza ao vulgar, da sofisticação ao choro, do riso à dança, tudo com muito cuidado, não se pode escorregar", disse Góes.
O diretor contou que fez "uma leitura bem particular do texto, mas, obviamente, respeitando o texto original". Para ele, "Toda Nudez" é a fala de uma prostituta morta. A peça começa com Herculano (o viúvo com quem Geni se casa) recebendo um fita na qual ela diz: "Herculano, aqui quem lhe fala é uma morta".
Segundo Góes, a partir daí, a encenação corre por meio de flashbacks, tendo em vários pontos a recorrência da fala da prostituta, que se casa com um viúvo, tem um caso com o filho dele e corta os pulsos. (AL)



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