|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Góes se preparou para Nelson por 15 anos
da Sucursal do Rio
O diretor Moacyr Góes passou
seus 15 anos de carreira se "preparando" para fazer um texto de
Nelson Rodrigues.
"Sempre tive um encantamento
grande pela obra dele. Mas é preciso mergulhar no Nelson sem muita sofreguidão. Tenho a impressão
que na verdade estive aguardando
todo esse tempo para presenciar o
primeiro encontro entre Nelson e
Marília, justamente quando ela
completa 50 anos de carreira",
disse Góes.
Para o diretor, "Toda Nudez Será Castigada" foi "uma boa escolha para marcar esse encontro"
porque, segundo ele, é o texto de
Nelson Rodrigues onde se encontram todas as questões temáticas
que povoam a obra dele: sexo,
morte, incesto, obsessão, traição,
sublimação por meio do sacrifício,
referência a uma sociedade repressora.
"O Nelson fala de temas fundamentais da civilização ocidental,
tudo isso traduzido num universo
suburbano, o que o faz acessível.
Por isso muitas vezes ele incomoda, fala muito de perto sobre questões humanas profundas."
A carreira de "Toda Nudez Será
Castigada" estreou, em 1965, cortada por aplausos em todas as cenas individuais, ovação de pé ao
fim do espetáculo e, a partir daí,
seis meses seguidos no teatro Serrador e excursão pelo Brasil, como
descreve o escritor Ruy Castro no
livro "O Anjo Pornográfico", sobre a vida de Nelson Rodrigues.
Mas antes disso o papel de Geni,
escrito para Fernanda Montenegro, que o recusou, foi também
desprezado pelas atrizes Tereza
Rachel e Gracinda Freire, que disse em uma entrevista: "Li três páginas de 'Toda Nudez Será Castigada', e o personagem principal
me repugnou".
"Geni é a personagem feminina
mais arrebatadora e marcante da
dramaturgia brasileira. Para fazê-la bem é preciso saber ir da delicadeza ao vulgar, da sofisticação
ao choro, do riso à dança, tudo
com muito cuidado, não se pode
escorregar", disse Góes.
O diretor contou que fez "uma
leitura bem particular do texto,
mas, obviamente, respeitando o
texto original". Para ele, "Toda
Nudez" é a fala de uma prostituta
morta. A peça começa com Herculano (o viúvo com quem Geni se
casa) recebendo um fita na qual
ela diz: "Herculano, aqui quem
lhe fala é uma morta".
Segundo Góes, a partir daí, a encenação corre por meio de flashbacks, tendo em vários pontos a
recorrência da fala da prostituta,
que se casa com um viúvo, tem um
caso com o filho dele e corta os
pulsos.
(AL)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|