São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Adesão à greve do funcionalismo público federal afeta várias instituições, como a Biblioteca Nacional
Museus federais fecham as portas no Rio

Zulmair Rocha/Folha Imagem
Fachada do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro


CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

As portas dos principais museus do Rio estão fechadas. Desde o final da semana passada, com a adesão de seus funcionários à greve do funcionalismo público federal, foram trancados os salões onde estão montadas exposições do porte da retrospectiva Guignard (no Museu Nacional de Belas Artes, no centro do Rio).
A greve atingiu também instituições como a Biblioteca Nacional, fechada desde o dia 12. Não há como fazer pesquisas ou consultar seu acervo, um dos mais importantes do país.
Em duas das instituições em greve -o Museu Histórico Nacional e o Paço Imperial-, um acordo feito entre a direção e os grevistas criou uma situação inusitada: duas exposições, programadas para esta semana, abrem apenas na noite do vernissage. Depois, permanecem fechadas enquanto durar a greve.
Uma solução intermediária também foi tentada pela diretora do MNBA, Heloísa Lustosa. Como a exposição Guignard está prestes a terminar (no dia 28 de maio), a diretora tentou convencer os grevistas a permitirem que a exposição fosse visitada por alunos da rede escolar. Até terça-feira havia cerca de 3.000 crianças da rede com visitas à exposição agendadas.
A proposta foi recusada em assembléia, na terça-feira à tarde, que reuniu cerca de 100 grevistas de várias entidades em um auditório do MNBA. Lustosa, única diretora de museu presente à assembléia, deixou o auditório assim que sua proposta foi rejeitada.
A Folha apurou que patrocinadores da exposição, orçada em R$ 1 milhão, procuram uma alternativa para que o museu seja aberto. A possibilidade de prorrogação da mostra é considerada inviável, já que seria necessária a ampliação dos prazos dos seguros. Além disso, muitos colecionadores que emprestaram obras têm outros compromissos assumidos.
Funcionários do Palácio Gustavo Capanema, onde funciona a sede do Ministério da Cultura e a Funarte, estão parados. Também paralisaram suas atividades os servidores da 6ª Superintendência Regional do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), responsável pela área que abrange os Estados do Rio e do Espírito Santo.
Com isso, não estão sendo expedidas autorizações para obras em imóveis tombados ou para que bens do acervo do Iphan saiam do país. O reflexo mais imediato disso é que museus ou instituições que tenham se comprometido a emprestar obras para exposições no exterior não têm como cumprir a promessa.
"Não sabia que estava tudo fechado. Pensei que fosse ver Guignard", queixou-se o turista Ivan Machado, de Porto Alegre, que na terça-feira à tarde tentou visitar a exposição montada no MNBA.
Como no Rio há uma grande concentração de museus e instituições federais ligadas à cultura -na cidade estão 7 dos 11 museus federais, além do Paço Imperial e da Biblioteca Nacional-, há poucas exposições para se ver.
Uma delas é a de obras inéditas da artista plástica Iole de Freitas, que será aberta hoje à noite no Centro Hélio Oiticica -uma instituição municipal, portanto fora da greve.
Os funcionários reclamam dos salários. "Sou bibliotecária, tenho mestrado em Ciência da Informação pela UFRJ, trabalho com os manuscritos da Biblioteca Nacional e desde que entrei aqui, em 1996, ganho R$674,07", conta Ana Lúcia Merege, da Associação de Funcionários da Biblioteca.
Os grevistas do funcionalismo federal -não apenas os da área cultural- reivindicam reposição salarial de 64%, fixação de uma data-base para a categoria e a implantação de um plano de cargos e salários, entre outros pedidos
Hoje, às 13h, os grevistas vão fazer um ato simbólico no Paço Imperial. À tarde, depois de participarem de um ato público reunindo todas as categorias do funcionalismo público no Rio, farão nova assembléia.


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