São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


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Iole de Freitas mostra obras inéditas

DA SUCURSAL DO RIO

Das paredes da construção plantada há quase 130 anos no centro do Rio brotam tubos retorcidos de aço e placas translúcidas, com curvaturas feitas no limite da resistência do material. Suspensa, a gigantesca escultura parece cortar o ar e invadir a construção.
Essa é a visão que se tem ao chegar ao Centro Hélio Oiticica, que inaugura hoje mostra com obras inéditas de Iole de Freitas, 55.
Iole fez uma obra única, que surge na fachada lateral e se espalha pelas cinco galerias do prédio. As estruturas, suspensas do lado de fora, atravessam as paredes e prosseguem por todo o prédio.
"Queria que houvesse a ativação do espaço, que o espectador percebesse não apenas as linhas e superfícies retorcidas, mas o espaço que está em torno", explica Iole.
Ela usou longos tubos de aço retorcidos -alguns com 17 metros-, com poucos pontos de solda, e placas de policarbonato brancas e foscas.
A escolha do material não foi aleatória. Desde que imaginou a exposição, em outubro, decidiu que criaria uma obra específica para o Centro Hélio Oiticica.
Queria também que sua obra ocupasse o espaço externo, como com "Território Vazado", que fez em 1999, nos jardins do Museu da Pampulha (Belo Horizonte), ou com a escultura "Dora Maar", instalada na piscina do Museu do Açude (Rio), também em 1999.
Preferiu os tubos e chapas translúcidas. "Não queria a transparência, mas a translucidez. Poderia usar o vidro, mas não conseguiria dar movimento às peças".
Montar a estrutura foi difícil. Com réguas de madeira, a artista fez "ensaios no espaço". Testou as curvaturas e os ângulos que se contrapõem às linhas sinuosas.
"Os ângulos são propositais para acelerar o olhar das pessoas. A ruptura das linhas dá velocidade ao trabalho", explica.
Para duas das salas, a artista criou esculturas nas quais, pela primeira vez, usa cor -um vermelho forte. "Sempre usei chapas de cobre, latão, e com seus processos de oxidação. Agora tive vontade de usar a cor e desde o início quis o vermelho", diz.
Iole afirma que seu trabalho se relaciona diretamente com as questões do construtivismo russo e do neoconcretismo, para ela um período fértil da arte brasileira.
"Tenho um olhar respeitoso sobre as obras de Niemeyer. O processo construtivo russo, com raras exceções, era seco e com poucas curvas. Essa sinuosidade e velocidade vem da arte brasileira. O MAC (Museu de Arte Contemporânea) de Niterói (projeto de Niemeyer) é inacreditável. A rampa dá uma sensação indescritível. E é vermelha. Um dia, quando eu tiver 100 anos, talvez produza uma coisa que seja 10% daquilo." (CG)


Exposição: Iole de Freitas
Quando: de ter. a sex., das 12h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 17h
Onde: Centro de Artes Hélio Oiticica (rua Luís de Camões, 68, Rio, tel. 0/xx/21/232-4213
Quanto: entrada franca


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