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DANÇA
O Balé da Cidade de São Paulo traz a consciência do tempo
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Q uestionando certezas, experimentando confrontações, sustentando a tensão das
forças da dança, o Balé da Cidade
de São Paulo vem reinventando
seu espaço na cidade. O repertório se renova e o Balé aposta em
novos talentos. Exemplos: a Cia. 2
está em cartaz com "Deserto dos
Anjos", da coreógrafa e bailarina
Cláudia Palma, e a Cia. 1 encerrou
uma temporada, com "Dualidade@br", de Gagik Ismailian, e
"Plenilúnio", de Susana Yamauchi e João Maurício.
A pressão do presente -uma
concentração de energia vinda do
passado- e a consciência de nossos próprios limites: é só isso o
que nos cabe diante do tempo?
"Deserto dos Anjos" tematiza a
indiferença e o abandono sofrido
pelos idosos na nossa sociedade,
que só redobra o sofrimento pelas
fragilidades físicas da idade.
O espetáculo começa enquanto
o público se senta. No palco uma
mulher gira lenta e constantemente. Aos poucos, outros bailarinos entram e formam um tecido
humano; deitado no chão, ele começa a se mover, com peso.
Quando os bailarinos se levantam, seu andar é arqueado, sua
dança emperrada e angustiante.
O que era fluido, se tornou espesso; o que era maleável, endureceu e o que era pequeno se tornou
mais frágil, diante da imensidão
das paredes do cenário. Cláudia
Palma encontra aqui uma forma
de aproximar coisas e materiais
aparentemente incongruentes,
como é incongruente o mundo de
onde eles vêm. Ao final, o "infinito", como ilusão de alívio. Os símbolos são pesados. E o espetáculo
se equilibra numa linha tênue,
com saldo positivo.
Já a Cia. 1 apresenta coreografias de gestos dinâmicos e virtuosos. Em "Dualidade@br" os movimentos são vigorosos, com
muitos giros, quedas e equilíbrios;
e a companhia está coesa e precisa. Amor/paixão, diferença/identidade: os perigos de sempre, e a
dança, que chega a ser muito forte, nem sempre escapa da dramatização exagerada.
"Plenilúnio" (nome nobre da
"lua cheia") põe em cena uma
gangue da cidade, em nove quadros. Na coreografia de Yamauchi
e João Maurício, os bailarinos
cruzam o palco em infinitas caminhadas; e é em meio a elas que os
quadros se dão.
É só isso o que nos cabe diante
do tempo? A pergunta do início
precisa ser ouvida de outro modo.
É só isso mesmo o que nos cabe: a
dança diante do tempo, quer dizer, a dança do seu tempo, que o
Balé da Cidade vem inventando,
aos poucos, para si.
Balé da Cidade, Cia. 2>
Balé da Cidade, Cia. 1
Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda,
171, região oeste, tel. 0/xx/11/3667-0499)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: entrada franca (retirar o
ingresso uma hora antes)
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