São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006 |
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CINEMA Em Cannes, Ian McKellen faz piada, dizendo que relacão com Maria Madalena é boa notícia para Vaticano: "Jesus não era gay" Ator de "Código" alimenta polêmica com igreja
SILVANA ARANTES ENVIADA ESPECIAL A CANNES O diretor Ron Howard e o astro Tom Hanks pareciam obedecer a um código particular. Com declarações suaves às centenas de jornalistas que os encaravam, ontem, no Festival de Cannes, aberto com a exibição de "O Código Da Vinci", os dois tentavam abaixar o tom da polêmica com a Igreja Católica, que cerca a estréia da superprodução, amanhã, no Brasil (500 cópias) e no resto do mundo (20 mil salas). Mas o código de conduta cautelosa foi quebrado pelo ator inglês Ian McKellen (que vive Leigh Teabing na tela). "Sei que a Igreja tem problemas com os gays. Essa é uma boa notícia para eles: Jesus não era gay!", disse, depois de se declarar "super feliz" por acreditar na tese do livro sobre o relacionamento de Jesus e Maria Madalena. Protestos contra o filme se intensificaram nas últimas semanas, em diversos lugares. No Brasil, um deputado tentou impedir o lançamento na Justiça, considerando a obra ofensiva à fé cristã. O filme é uma adaptação do best-seller de Dan Brown "O Código da Vinci" , um romance policial apoiado na tese de que Jesus e Maria Madalena mantiveram relacionamento conjugal . O livro vendeu mais de 40 milhões de cópias no mundo, e a expectativa sobre o filme é que repita o fenômeno, colocando ainda mais em evidência as idéias do professor de simbologia Robert Langdon, vivido por Hanks. Tangente Quando chamados a responder se concordavam com o pressuposto da obra, Howard e Hanks preferiram sair pela tangente. "Não quero compartilhar minha conclusão", disse Howard. "Eu não estava por perto [na época de Cristo]", foi a resposta de Hanks. Quando McKellen propalou sua opinião com humor e estudado desdém pela polêmica, obteve dois efeitos: arrancou uma corrente de risos dos jornalistas e, instantaneamente, transformou Hanks em seu coadjuvante. O bambambã de Hollywood notou a manobra e, de certa forma, cumprimentou o colega em cena. Quando McKellen encerrou sua resposta, alongada em mais algumas frases, Hanks disse: "Qual era mesmo o seu ponto? Jesus..." e parou na reticência, sem repetir a frase retumbante. O empenho de Howard em desencorajar a polêmica foi tal que ele chegou a pedir aos leitores que se sentem ofendidos pelo livro de Brown para não ir ver seu filme. Ao menos, não tão já. "Meu conselho é: não vá ver o filme se você pensa que vai ficar irritado com ele. Espere. Converse com outras pessoas", disse. Hanks referiu-se ao filme como "obviamente um entretenimento" e ressaltou que "é uma ficção, não um documentário". Quanto à dispensa que Howard fez do público potencialmente raivoso, é difícil saber se ela está respaldada em sua confiança de que, com ou sem polêmica, o título repetirá no cinema sua carreira recordista nas livrarias. "Desisti de fazer prognósticos", ele disse, quando questionado sobre a expectativa de bilheteria. Crítica acha risível Se depender da opinião dos críticos (que Howard disse não ter lido) , "O Código" não será exatamente um paradigma de sucesso. A maioria dos especialistas que viram o filme em sua primeira sessão em Cannes, na terça à noite, achou-o fraco. Em alguns pontos, risível, como ficou claro com o ruidoso divertimento de parte da platéia num ponto crucial da trama, sobre o qual um jornalista pediu ontem a opinião de Hanks. O repórter perguntou ao ator se ele achava que o filme adquiria uma atmosfera intensa no momento do diálogo em que Robert Langdon (Hanks) revela a Sophie Neveu (Audrey Tautou) seu parentesco com Jesus. Desnecessário dizer que se tratava de pergunta-pegadinha. Hanks respondeu com o misto de bom-humor e ironia que manteve durante toda a entrevista coletiva. Disse que sim, que aquele era um momento forte do filme e que tinha a atmosfera coerente com a situação de duas pessoas trocando segredos num lugar sombrio e escondido. "Há muitos conversas assim no mundo." Houve até polêmicas pessoais sobre Hanks. "Você acha que o seu cabelo está bom hoje?", perguntou um repórter. Hanks retornou ao protocolo do silêncio. Ou da tergiversação. "Não sou eu que tenho de responder. A imprensa é que vai espalhar o que acha", disse. Texto Anterior: Programação Próximo Texto: Crítica: Filme tem elenco ruim e roteiro frágil e burocrático Índice |
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