São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006
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CRÍTICA Filme tem elenco ruim e roteiro frágil e burocrático SÉRGIO RIZZO CRÍTICO DA FOLHA Primeiro, aos que leram "O Código Da Vinci": a adaptação para cinema não se resume apenas a jogar fora situações do romance, algo natural diante da impossibilidade de condensar toda a ação em 140 minutos. Há também uma série de variações _algumas pequenas, outras mais significativas, sobretudo no final. Pode ser que o roteirista Akiva Goldsman tenha preferido suas soluções às de Dan Brown, mas é provável que as alterações sirvam ao objetivo primordial de criar novidades para quem já conhece a trama e tende a encarar o filme com certa desconfiança. De qualquer forma, com Goldsman nunca se sabe: depois de perpetrar "Batman e Robin" (1997) e "Perdidos no Espaço" (1998), ele ganhou o Oscar de roteiro adaptado por "Uma Mente Brilhante" (2001) e assinou também "A Luta pela Esperança" (2005), os dois últimos em parceria com o diretor Ron Howard, que o trouxe para "Código". O que era "Uma Mente Brilhante"? Um filme de ator (e que ator: Russell Crowe) delineado em torno de um só personagem (e que personagem: gênio e maluco em doses cavalares). "O Código Da Vinci" tem arquitetura mais descentralizada: aventura com ações paralelas, meia dúzia de personagens relevantes para o encadeamento da trama. Para complicar, o pano de fundo de almanaque, conduzindo à obrigação de combinar ingredientes de história, religião e arte. Costumou-se dizer que o livro era um roteiro pronto, mas aí está o filme para demonstrar o contrário: quando segue o romance ao pé da letra, o resultado é burocrático e insatisfatório; quando procura escapar dele, frágil. A escolha do elenco tem sua cota de responsabilidade, claro. Tom Hanks e Audrey Tautou não foram capazes de fazer por seus personagens o que Ian McKellen e Jean Reno conseguem, ao usar os traços descritos por Dan Brown para compor figuras de identidade própria. Já Alfred Molina e Paul Bettany, a turma da Opus Dei, beiram o constrangimento. Agora, aos que não leram e não pretendem ler: "O Código Da Vinci" procura ser didático para não deixar ninguém com a sensação de que perdeu um pedaço importante da história. Na medida em que a correria permite, explica-se o essencial. O problema é que, neste caso, o essencial talvez seja pouco. Além disso, a pretensão de deixar tudo muito explicadinho soa escolar, no mau sentido do termo. Em vez de fluir naturalmente, a narrativa tem "legendas", por meio de diálogos que contam o que não se viu e de inserções ao estilo PowerPoint que resumem abruptamente informações e linhas de raciocínio. E, aos quem não leram o romance e não pretendem ver o filme exclusivamente por questões de fé: no final das contas, o discurso da adaptação para cinema é carola e inofensivo. Até a Opus Dei, vilanizada como instituição no livro, recebe tratamento mais moderado, quase gentil. Eis um filme com comportamento de candidato que acende uma vela para Deus e outra para o diabo em tempo de eleição: nem tanto à esquerda nem tanto à direita, muito pelo contrário. "O Código Da Vinci" quer ficar bem com todo mundo, mas é provável que essa ambição desmedida lhe renda o castigo de gerar descontentamento em todo mundo. O Código Da Vinci (The Da Vinci Code) Direção: Ron Howard Produção: EUA, 2005 Com: Tom Hanks, Audrey Tautou, Paul Bettany, Ian McKellen, Jean Reno Quando: a partir de amanhã no Frei Caneca Unibanco Arteplex, Bombril e circuito Texto Anterior: Cinema: Almodóvar ganha Príncipe de Astúrias 2006 Próximo Texto: Ágora enfatiza política em Shakespeare Índice |
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