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Última Moda
Alcino Leite Neto - ultima.moda@folha.com.br
Os luxos de Dener
Autobiografia do estilista será relançada em agosto
Começou a redescoberta de
Dener Pamplona de Abreu, o
mais famoso estilista brasileiro
de todos os tempos, há anos
lançado às traças pela desmemoriada cena da moda no país.
A autobiografia do estilista,
"Dener - O Luxo", esgotada há
mais de três décadas, será reeditada em agosto pela CosacNaify (leia trechos nesta pág.).
A editora também prepara a
publicação de um gigantesco
álbum com as criações de Dener (1937-1978), que será lançado em 2008. O editor Charles
Cosac está cuidando pessoalmente do livro, para o qual adquiriu vários vestidos do estilista, que agora lotam seu apartamento enquanto esperam ser
fotografados. Sobre Dener,
existe a biografia "Bordado da
Fama", de Carlos Dória.
A nova edição de "Dener - O
Luxo" é coordenada por Mariana Lanari. Em 1972, o livro foi
um sucesso de vendas, apesar
de Dener ser alvo de uma série
de ataques moralistas. Muita
gente também não lhe perdoava o fato de ter sido o figurinista
de Maria Teresa Goulart, mulher do presidente João Goulart, deposto em 64.
As perseguições não o impediram de fazer um livro malicioso, esnobe e narcisista, em
que ele ataca a falta de gosto no
país, lança farpas para todo lado e sentencia, com razão: "Eu
criei a moda brasileira".
"Os tanques estão na rua, Dener"
Leia a seguir um trecho da
autobiografia "Dener - O Luxo"
em que o estilista escreve sobre
o golpe militar no Brasil, em
março de 1964.
"Em princípios de 64 eu comecei a perceber que o país estava fervendo porque em todo
lugar se falava de política. Muita gente vinha puxar conversa
comigo porque sabia que eu
vestia Maria Teresa Goulart.
Eu achava uma graça danada de
pensarem que eu jamais saberia as respostas para as perguntas que me faziam. Só comecei a
ficar preocupado quando percebi que os comunistas estavam ficando fortes. Mas dois ou
três uísques acabavam com
qualquer preocupação.
Até que um dia eu sou acordado de madrugada, nem me
lembro por quem. O mordomo
chamou-me nervoso, pouco depois de eu ter adormecido. Percebi que só poderia ser revolução ou guerra, ou ninguém ousaria me chamar àquela hora.
Era revolução. "Os tanques estão na rua, Dener. Parece que a
revolução venceu.'
Eu fiquei no pânico mais desesperador. A primeira coisa de
que me lembrei foi de uma fotografia de Pequim em que aparece todo mundo na praça vestido igualzinho. O que eu enxergava diante de mim era pior
que o apocalipse. Alicia Scarpa,
Elisinha Moreira Salles, todas
de macacão azul, colocando rótulo em pacotes de goiabada em
alguma fábrica de subúrbio. Jamais eu produziria macacões
azuis para fabricação em massa. (...)
Sou tão inexperiente para esses momentos que não me passou pela cabeça esconder meus
tapetes, minha prataria, meus
objetos de arte. Não pensava no
que eu tenho. Pensava no que
eu não poderia mais fazer.
Comecei a imaginar como seria a deposição de Jango. Maria
Teresa é mulher de categoria e
certamente seria deposta com
dignidade, fazendo alguma coisa que a marcasse. Mandei que
o mordomo conseguisse ligar
de qualquer maneira para o Palácio do Planalto. De repente,
tinha-me vindo um pensamento negro: e se Maria Teresa, que
deveria estar nervosa, não soubesse escolher o vestido certo
para um momento desses. Afinal, em matéria de deposição, é
raríssima uma segunda oportunidade."
Frase
"O que enxergava
diante de mim era pior
que o apocalipse. Alicia
Scarpa, Elisinha
Moreira Salles, todas de
macacão azul,
colocando rótulo em
pacotes de goiabada em
alguma fábrica de
subúrbio"
Clodovil, Zuzu Angel e outras farpas
Nos trechos a seguir de seu livro, Dener fala de Clodovil, seu
principal rival no circuito da
moda na época e uma de suas
obsessões na autobiografia, do
modo de vestir da mulher cafona, da estilista Zuzu Angel
(1921-1976) e da invasão de grifes estrangeiras no Brasil.
Mulher cafona
"A cafona, por exemplo, é a
mulher que ninguém consegue
vestir. É dessas que são capazes
de confundir babado de cortina
com barra de vestido, estragar
as coisas mais caras do mundo e
destruir tudo o que é de bom
gosto só ao se aproximarem. A
mulher cafona é sempre espalhafatosa, gosta de mostrar o
que ela não sabe que deveria esconder."
Clodovil 1
"O Clodovil não é mau costureiro e às vezes até que faz uns
vestidos aceitáveis para suas
clientes do interior de São Paulo. Mas ainda que ele fizesse um
grande vestido, não adiantaria
de nada porque ele não teria
para quem vender."
Zuzu Angel
"Quem fala de Zuzu Angel,
não entende nada de alta-costura. Dona Zuzu Angel simplesmente nunca existiu."
Moda nacional
"Estamos pagando royalties
enormes a estrangeiros que
não contribuem em nada para
o Brasil, e só aparecem aqui de
vez em quando para vender os
fins de suas coleções a algumas deslumbradas, e recolher
os dólares que uns bobos pagaram para impressionar outros bobos que acreditam nisso. Há uma camisa barata, feita em padrões de confecção
inferior, usando material de
má qualidade, e que custa três
vezes mais que as outras, só
porque tem um nome estrangeiro. É dinheiro saindo à toa
do país. Não seria melhor gastar esses dólares em máquinas ou remédios?"
Clodovil 2
"O Clodovil pode pedir, qualquer um pode, o que ele quiser
por um vestido. O problema é
que ele não tem quem pague.
Vamos então chegar a um acordo assim: o Clodovil é o que pede os preços mais altos do Brasil. Eu sou o que vende os vestidos mais caros do Brasil. Aí todo mundo está satisfeito."
Antes e depois de mim
"Eu criei a moda brasileira,
um estilo próprio e nosso, que
fez com que nossas grandes senhoras não precisassem ir vestir-se na Europa. Eu fiz os brasileiros acreditarem em moda,
e figurinista passou a ser assunto. Lancei uma imagem e hoje
ninguém tem vergonha de dizer que se veste no Brasil. Antes
de mim, para ser-se elegante,
precisava usar-se etiqueta de
fora."
Kate Moss lança hype dos jeans estilo anos 70
Kate Moss lançou e,
como de costume, os fashionistas já estão copiando. A top apareceu
em público, em diversas
ocasiões, usando jeans
com bocas largas, com
uma certa inspiração
hippie, e não demorou
muito para o hype se
espalhar pelo mundo.
Vale lembrar que a
própria Kate foi responsável pela febre
dos jeans skinny, ultrajustos, lançada em
sua fase rocker, no início do namoro com o músico Pete Doherty, e que
hoje domina a moda.
O modelo que detonou
a nova tendência foi um
Chloé vintage, com shape não tão amplo quanto o das antigas patas-de-elefante. A nova
modelagem da barra
lembra mais a de
uma calça de marinheiro, com boca-de-sino setentinha
de abertura discreta.
As atrizes e "fashion
victims" Mischa Barton
e Lindsay Lohan também já foram vistas
usando o modelo mais
larguinho -a última,
aliás, também aderiu
ao Chloé vintage, bem
na cola de Kate.
A Topshop, cadeia
de fast-fashion para a
qual Kate acaba de
lançar uma linha especial, recebeu uma
chuva de pedidos de
seu modelo K Jean, com
cintura levemente alta e
barra seguindo os novos mandamentos da
beldade. A peça, que
custa 40 libras (cerca
de R$ 154) estava fora
de estoque, foi reposta
e virou sucesso.
Na disputadíssima
coleção de Kate para a
Topshop, porém, todas as calças disponíveis ainda apostam na
modelagem skinny.
Fast fashion
DIA DE ANDRÉ
O estilista André Lima, conhecido por seus vaporosos
vestidos de noite, está lançando uma linha de peças mais
casuais, chamada Dia de André Lima.
WARHOL PARA VESTIR
A artista plástica Dora Longo Bahia montou uma exposição com obras de 12 artistas
para o lançamento da coleção
de inverno da Thorré, inspirada em Andy Warhol. Entre os
dias 22 e 26, a mostra estará
aberta ao público na Escola
São Paulo (r. Augusta, 2.239).
NOVA CASA
Jacimar Silva, que durante
a última década foi diretor de
marketing da Rosa Chá, deixou o posto e se tornou sócio
da nova empresa MKT Mix
Comunicação, criada pelos
donos da MKT Mix Press
-Tânia Otranto, Balia Lebeis
e Roberto Ethel.
DOSE DUPLA
A dupla Mixhell, formada
pelos DJs Laima Leyton e Iggor Cavalera, lança amanhã, na
loja Surface to Air (al. Lorena,
1.989), uma coleção em parceria com a grife A Mulher do Padre, batizada de AMP-Mixhell.
com VIVIAN WHITEMAN
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