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Coletânea resgata lado poeta de Machado de Assis
Livro corrige erros tipográficos cometidos em edições anteriores e revela paródia de Dante atribuída ao autor
Para especialistas, a comparação com os contos
e os romances de Machado prejudicou a avaliação crítica da poesia do escritor
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo quem não é especialista em literatura conhece frases como "Marcela amou-me
durante quinze meses e onze
contos de réis" ou "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma
criatura o legado de nossa miséria", ambas de "Memórias
Póstumas de Brás Cubas".
Muito mais difícil é achar
quem saiba um verso do mais
importante escritor brasileiro.
Também no meio acadêmico
a pesquisadora Rutzkaya Queiroz dos Reis constatou essa situação quando começou a estudar as poesias de Machado de
Assis (1839-1908) em 1999.
Tal "estranheza" motivou
sua tese de mestrado e ganha as
páginas de livro com o lançamento de "A Poesia Completa".
O livro traz 214 poemas, entre obras originais e traduções
feitas por ele, além da recepção
dos críticos da época.
Há ainda uma paródia da
"Divina Comédia", de Dante,
atribuída a Machado e publicada só agora em livro. Recuperada em 2008 pelo pesquisador
Eugêncio Vinci de Moraes, a
poesia foi escrita em 1874 na revista "Semana Ilustrada".
Outra preocupação da pesquisadora foi corrigir os inúmeros erros dos quais a produção poética de Machado foi vítima em edições anteriores. Segundo ela, é comum encontrar
poemas com versos suprimidos
e palavras trocadas.
Apesar de relegada a um segundo plano na obra de seu autor, o "lado poeta" foi constante
na carreira de Machado. Em
1854, aos 15 anos e muito antes
de escrever os primeiros romances, publicou um soneto
no "Periódico dos Pobres".
Dez anos e muitos versos depois, surge o primeiro livro de
poemas, "Crisálidas". Os elogios, se não foram unânimes,
foram os melhores que o Machado poeta recebeu em vida:
havia ali, segundo um crítico da
época, "robustas esperanças da
poesia nacional".
Os seguintes, "Falenas"
(1870) e "Americanas" (1875),
porém, não corresponderam às
expectativas. Eram tidos como
de estilo "tardio e inadequado".
Os elogios só voltariam em
maior número no último volume poético de Machado, "Poesias Completas" (1901), que,
aos livros anteriores, acrescentava as obras de "Ocidentais",
hoje tidas como suas melhores.
Mesmo assim, com sérias
restrições. Em texto da época,
Múcio Teixeira disse que Machado encheu 376 páginas de
versos "sem poesia" e de "uma
monotonia soporífera".
"Pelos parâmetros da crítica", avalia Reis, "Machado, de
um modo geral, ficou com a
imagem de ser, além de mau
poeta, um poeta conservador".
Antonio Carlos Secchin, poeta e membro da Academia Brasileira de Letras, diz que o Machado poeta foi eclipsado pelo
"peso arrasador" do prosador.
"Ele tem apuro técnico, faz
uma poesia mediana. Acontece
que os poemas são sempre medidos pelos romances e, aí, a
comparação é imensamente
desfavorável aos poemas."
Valentim Facioli, professor
da USP e dono da editora Nankin, é um dos raros defensores
dos versos machadianos.
"Machado não embarcava
nos valores nacionalistas ou
paisagistas. Como nos romances, era mais um poeta do pensamento do que da emoção. Por
isso não foi compreendido".
Acrescenta ainda que a poesia machadiana é rica em formas, rimas e metáforas. "No século 19, apenas Gonçalves Dias
e Cruz de Souza foram maiores
que ele na poesia brasileira".
A POESIA COMPLETA
Autor: Machado de Assis
Organização: Rutzkaya Queiroz
dos Reis
Editora: Nankin/Edusp
Quanto: R$ 100 (752 págs.)
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