São Paulo, segunda, 18 de maio de 1998

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TELEVISÃO
Márcia Peltier compensa a existência da Márcia SBT

TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Existe a Márcia tout court e, em compensação, existe a Márcia Peltier. Na realidade, a primeira não é tão tout court assim. É a Márcia SBT, um sobrenome mais alarmante do que um alarme.
Ela é morena de lábios carnudos e procura um escândalo como já se procurou uma esmeralda naquelas terras.
Ela é tão imprevisível em suas artimanhas, que nem horário fixo tem. As mulheres, nos outros canais, estão fazendo bolo para o lanche das crianças, já a Márcia SBT está realizando as fantasias sexuais das moças de seu auditório.
"Minha fantasia é fazer com um Don Juan." O que será um Don Juan nesse fim de século? O mesmo de todos os outros fins de século. Um homem de capa e máscara.
Só que agora fornecido pela diretoria do Clube das Mulheres, uma invenção paulista para as mulheres que querem outro tipo de brioche com seu chá.
Nem o Pinocchio tinha uma cara de pau que se comparasse a da madeira sem lei da Márcia SBT.
Dias depois, ela reúne no palco três casais descontentes de religiões diferentes.
Mesmo sem trazer os dentes, o marido espírita fala e diz. O marido da católica diz que padre é homossexual.
Já a mulher de uma bíblia enorme conta que seu marido raquítico também já foi homossexual.
O auditório grita, ri e xinga, como se estivesse ganhando algum por tanta cooperação. Até que alguém sugere que roupa suja deve ser lavada em casa.
A Márcia SBT quase desmaia diante de tanta insolência. Debaixo de seus lábios carnudos alguém quer lhe tirar o ganha-pão? O bate-boca esquenta. A Márcia suspira aliviada.
A Márcia Peltier é o oposto. Moça fina que escreve versos, ela tem sobrenome que não acaba mais. Até um novinho em folha. No seu longo programa semanal, ela pesquisa.
Só que, no último, ficou muito limitada à escolha entre ser loura ou morena. Ela, lourinha que é, chegou a trapacear. Apareceu loura e, logo depois, com uma peruca preta. Márcia loura ganhou.
Entre as milhares de mulheres entrevistadas, muitas eram falsas louras. Outras, bem no tipo a mulata é a tal, afirmavam que morena era muito mais bonita. Parecia até recital com marchinhas de Carnaval de Lamartine Babo.
Mas ficou evidente que nenhuma loura pinta seus cabelos de preto. A loura Márcia ganhou a parada. Mas que assunto tão bobo para um programa tão longo.



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