São Paulo, quarta, 18 de junho de 1997.



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LITERATURA
Vencedor do prêmio Camões 97, angolano que militou no MPLA vai à USP e conversa com leitores
Pepetela debate sua obra guerrilheira

DENISE MOTA
da Redação

O escritor angolano Artur Maurício Pestana dos Santos -o Pepetela-, 56, vencedor do prêmio Camões -que é concedido a autores de língua portuguesa- deste ano, está em São Paulo para debater sua obra.
Vencedor também de batalhas intercontinentais, Pepetela ajudou a libertar seu país do domínio português, na década de 70, e atualmente mora em Lisboa, onde escreve, sob patrocínio do governo português, um novo romance.
Hoje e amanhã, Pepetela debate sua obra na USP. Na sexta-feira, participa de um encontro com leitores no Ática Shopping Cultural. Depois, o escritor segue para o Rio.
Nono vencedor do prêmio Camões e primeiro angolano escolhido para o prêmio, Pepetela não acredita que sua escolha tenha tido conotação política, já que "o júri é metade português, metade brasileiro".
O prêmio Camões é promovido anualmente por Brasil e Portugal e dá ao vencedor US$ 75 mil. A entrega do prêmio a Pepetela deve acontecer em setembro, em Brasília. No Brasil, já venceram o prêmio os escritores Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto e Rachel de Queiroz.
Guerrilha
Pepetela escreveu seu primeiro romance, "As Aventuras de Ngunga", na frente guerrilheira de Cabinda, onde era professor das bases do MPLA - Movimento Popular para a Libertação de Angola.
"As Aventuras de Ngunga" (publicado em 1974) foi utilizado para fins didáticos durante a guerrilha, ao narrar a história de um garoto que sonha com o miliciano ideal: justo, solidário e corajoso.
No romance, Pepetela divide a guerra civil de Angola em dois lados: o dos angolanos, que desejam a independência, e o dos colonialistas (portugueses), cruéis e injustos.
Passado o fervor da guerra, o autor classifica o livro como "um texto feito para escolas". "Evidentemente, o que vai acontecendo no país influencia a obra. Além do mais, estávamos lutando, e a literatura tinha que ter um certo tom de denúncia", diz.
Enquanto lutava, Pepetela também escreveu "Yaka" e "Mayombe" (Ed. Ática), todos publicados no Brasil.
"Após a guerrilha, os livros adquirem outros temas para discussão, como a consolidação da nação e os conflitos e contradições decorrentes de uma nova sociedade. Há um tom diferente, não tão otimista, mais crítico."
Professor de sociologia da universidade de Luanda e bolsista do Estado português, Pepetela agora trabalha em uma ficção.
"Iniciamos um novo processo em Angola. Tivemos uma guerra civil, demos os primeiros passos para a cicatrização de uma série de feridas, até mesmo dentro de famílias repartidas pela guerra. O momento agora é de fazer abaixar a poeira", diz.
Em Lisboa, onde fica até novembro, Pepetela escreve "A Gloriosa Tertúlia", ficção em que relata a vida em Luanda por meio da história dos holandeses que ocuparam a costa de Angola. No romance, o autor conta a história de uma família constituída por um holandês e uma angolana.
"Esse livro trata um pouco das relações Brasil-Portugal e Angola-Holanda no século 17. Sempre há, em minha obra, uma forte disputa pelo poder, mas não é só isso. Há um forte componente social também, um estudo das diferenças sociais dentro de Angola."
Apesar de o engajamento político e a análise da guerrilha serem as principais características das obras que escreve (entre as mais recentes estão "A Geração da Utopia" (92) e "A Parábola do Cágado Velho" (96), ambas não publicadas no Brasil), Pepetela diz nunca ter tido nenhum problema com o conteúdo de seu trabalho em Portugal. "Passado é passado, com todas as suas contradições."

Evento: Debate de Pepetela na USP
Quando: hoje e amanhã, às 17h
Onde: Faculdade de Letras, sala 107 (av. Luciano Gualberto, 403, Cidade Universitária, tel. 011/211-4214)
Quanto: entrada franca (não é necessário retirar convites)


Evento: Encontro do escritor Pepetela com leitores
Quando: sexta, 20 de junho, às 20h
Onde: Ática Shopping Cultural (av. Pedroso de Morais, 858, Pinheiros, tel. 011/867-0022)
Quanto: entrada franca (os lugares devem ser reservados com antecedência, por telefone)




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