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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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CRÍTICA

Com história simples, filme atinge dimensão rara no cinema

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Pequeno grande filme sobre o perdão, "O Filho" é o quinto longa de ficção dos irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne e o primeiro a ser exibido comercialmente no Brasil. Ele segue fielmente o estilo de "A Promessa" e "Rosetta", outros dois "pequenos grandes filmes" desses extraordinários diretores belgas treinados na escola do documentário: narração elíptica, câmera na mão e um rigor ético bressoniano.
"O Filho" bem poderia se chamar "O Pai". A câmera acompanha o tempo todo a figura de um carpinteiro de meia-idade. A história se desenrola exclusivamente de seu ponto de vista, a partir do momento em que sua rotina é alterada pela chegada de um aprendiz à marcenaria onde trabalha.
Quem é esse jovem? Por que ele, e não os outros, merece atenção redobrada do marceneiro? Por que a desconfiança evidente, o olhar que espreita por frestas a ação do garoto? "O Filho" se constrói quase como um suspense.
Nos primeiros 20 minutos, a câmera não vê o rosto do aprendiz. Durante esse tempo ela praticamente não sai do pescoço de Gourmet, sentindo sua respiração alterada. Só a partir do momento que algumas informações são reveladas é que a câmera ganha liberdade. Mas aí o espectador já sabe quem é aquele garoto e é da movimentação da câmera que nasce a tensão, baseada na proximidade entre os dois atores.
É cinema puro, talvez até purista demais para os padrões de hoje. Mas o rigor dos irmãos Dardenne é algo a ser valorizado. A tragicidade da situação de "O Filho" não é pontuada por choro nem vela. Não há música, por exemplo. A secura dá o tom, o que não significa que a emoção esteja ausente.
A emoção mais contida de "O Filho" não é a mesma que a emoção explosiva do final de "Rosetta", mas a intensidade é semelhante. "Rosetta" talvez tivesse maior impacto em função da dramática pobreza em que vivia a personagem-título. Mas é outra a questão do novo filme, mais centrado na moral do que no social.
Apesar de essencialmente cinematográfico, contando uma história simples com economia de recursos e de diálogos, "O Filho" tem uma dimensão que raramente o cinema consegue atingir. E justamente por não se esquivar dos grandes temas humanos, ainda que com um tratamento econômico e desespetacularizado, é um "pequeno grande filme".


O Filho
Le Fils
    
Produção: Bélgica/França, 2002
Direção: Jean-Pierre e Luc Dardenne
Com: Olivier Gourmet, Morgan Marinne
Quando: a partir de amanhã



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