|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POPLOAD
Armas de destruição em massa
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Não demora muito, mas todo
assunto sério que pauta um
momento importante da história
da humanidade acaba escorregando para o pop.
Pois já está devidamente incorporado aos anais da cultura popular o termo "weapons of mass destruction", a desculpa de George
W. Bush e seus aliados para invadir o Iraque atrás das armas biológicas, químicas, nucleares e radiológicas que o presidente norte-americano argumentou haver em
mãos terroristas.
A primeira atitude pop contra
Bush aconteceu na época do Saddam Hussein no buraco de rato,
quando alguns hackers tomaram
conta do Google, a ferramenta de
busca mais usada na internet e a
costela do famigerado Orkut.
Eles direcionaram a pesquisa
sobre "weapons of mass destruction", que antes indicava minissites da ONU e Casa Branca, para
uma página que dizia: "As armas
de destruição em massa não podem ser mostradas". E, "se você
for George Bush, clique no nome
do país na barra de endereços e
procure ao menos pronunciá-lo
(Iraq) corretamente".
A zoeira anti-Bush, claro, foi parar na moda e na música. O item
de vestuário descolado para o verão dos festivais europeus e americanos é a famosa camiseta de lojas para turista, aquela da escrita
"lousy T-shirts" [camisetas mixurucas]. Sabe aquela do "my girlfriend went to New York and all I
got was this lousy t-shirt"?
A americana CafePress (.com),
a mais bem-sucedida marca de
camisetas (não só) para venda on-line, lançou recentemente a básica
"George Bush went to Iraq to look
for weapons of mass destruction
and all he found was this lousy t-shirt" [George Bush foi ao Iraque
procurar armas de destruição em
massa, e tudo o que ele achou foi
esta camiseta mixuruca], com variantes e até de tamanho skinny,
para meninas. Além da camiseta,
tem caneca, blusa, pôster, mousepad e cueca também.
Tem ainda estampas como
"weapons of mass deception" e
"got WMD?", parodiando a "got
milk?", da campanha americana
do leite. E ainda outra com...
Nas rádios inglesas, uma das
músicas mais executadas é da famosa banda Faithless, do produtor Rollo Armstrong. "Mass Destruction", que saiu como single
no final do mês passado e precede
o quarto álbum do excelente combo de trip hop nervoso, é uma delícia sonora. Mas o recado da letra
é dizer que racismo e desinformação, seja para um branco rico ou
um pobre asiático, são armas de
destruição em massa. Tem uma
versão da canção no site da banda
e várias na internet.
No último Coachella Festival, na
Califórnia, Wayne Coyne, da banda Flaming Lips, gastou boa parte
do horário de seu show para fazer
campanha anti-Bush. E pegar um
revólver de bolhinhas de sabão e
apresentá-lo como uma arma de
destruição em massa.
A última edição da revista musical "Alternative Press", americana, reúne os punks ativistas que
estão organizando a maior armada sonora contra Bush neste ano
"crucial" de eleição.
São discos, festivais e um corpo-a-corpo com fãs para divulgar o
que eles chamam de ação Weapon of Mass Instruction.
E acaba de sair nos EUA (e no
Brasil também) uma nova arma
de destruição do presidente norte-americano. Em forma de disco.
"To the 5 Boroughs", dos endiabrados Beastie Boys, derramam
seu rap branco contra o chefe da
nação na bombástica faixa
"That's It That's All".
Não só, mas também, Bush movimenta o pop.
@ - lucio@uol.com.br
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Patrimônio: Teatro Municipal deve "se afastar" de carros Índice
|