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CRÍTICA
Diretora partilha dores de "serial killer"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Conhecemos muitos "serial
killers". São pessoas desequilibradas. Psicopatas. E, quando se
diz psicopata, sabe-se que a parte
referente à psique não conta (exceto pela maneira bizarra como se
manifestará). Importa saber é que
se trata de um doente que, como
representa perigo, deve ser tirado
de circuito e, eventualmente, eliminado sem grande dor.
"Desejo Assassino" destoa dessa linhagem. Antes de tudo, a diretora e roteirista Patty Jenkins
parece querer nos fazer partilhar
das dores de Aileen (Charlize
Theron). E elas são muitas: estuprada sistematicamente desde os
oito anos; órfã pouco depois;
prostituta desde os 13.
É já adulta que encontra a jovem
e lésbica Selby (Christina Ricci). A
crer no filme, Selby é a primeira
pessoa a dar atenção desinteressada a Aileen, de maneira que não
demora a passarem da hostilidade inicial à paixão descontrolada.
Desde então estamos às voltas
com um casal um pouco diferente
daquelas grandes duplas criminosas de linhagem romântica, como
a de "Bonnie & Clyde", em que a
motivação para o crime pode ser
social ou psíquica, mas invariavelmente coloca à frente uma posição rebelde, anti-social.
No caso de Aileen e Selby, não
existe partilha completa nem entrega mútua. Embalada pelo
amor, Aileen pensa que conseguirá emprego. Não consegue. Volta
à prostituição. Seu ódio pelos homens cresce. Começa a matá-los.
Os melhores momentos são os
que mostram a vida do casal Aileen/Selby. É quando parecem desenvolver a aspiração a uma vida
burguesa que se mostram interessantes. Em especial Aileen, pois
seu lado "serial killer" decorre diretamente dessa aspiração.
Nisso o filme é bastante feliz: ao
nos mostrar um casal constituído
por pessoas pouco convencionais, cujas aspirações são, no entanto, conformes aos princípios
que regem a vida social. Isto é, não
se reivindicam como malditas,
nem aderem a um movimento
gay: é a felicidade individual que
norteia seu comportamento.
Contudo a louvável preocupação em tornar compreensível o
caminho que leva Aileen a se tornar um monstro não impede o filme de ser aborrecido, de se entregar às convenções do filme independente, de se deleitar com a
performance de Theron, premiada com o Oscar e dotada desse tipo de exagero que consiste em
não só representar bem um papel,
como em deixar claro que o faz.
Um estilo bem diferente, no mais,
do da precisa Christina Ricci.
Monster - Desejo Assassino
Monster
Direção: Patty Jenkins
Produção: EUA, 2003
Com: Charlize Theron, Christina Ricci
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Gemini, Lumière e circuito
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