São Paulo, quinta, 18 de junho de 1998

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Empresário quis acabar com fitas piratas

de Tóquio

A transformação de Yoshio Muranaga no "Roberto Marinho japonês" foi recheada de polêmica desde o primeiro dia em que sua TV começou a operar até a semana passada, quando começou a Copa do Mundo na França.
Em 1996, para assegurar o sucesso da TV, Muranaga tentou acabar com um dos negócios mais tradicionais entre os 210 mil brasileiros que vivem oficialmente no Japão -o aluguel de fitas de vídeo com novelas e noticiários brasileiros.
Calcula-se que ao menos 3.000 pequenas lojas no Japão aluguem fitas com programas das TVs brasileiras. Piratas, essas fitas são trazidas do Brasil de avião e chegam ao Japão uma semana depois que os programas foram exibidos. Mesmo com o atraso, são muito populares.
Muranaga considerou que esse comércio ameaçava o sucesso de sua TV e, sustentando ter comprado os direitos sobre a transmissão de programas da Rede Globo no Japão, ameaçou processar os lojistas. A reação foi imediata. Um boicote fez com que os dois jornais semanais do empresário deixassem de ser vendidos nas lojas, assim como alguns produtos que o empresário importa com exclusividade do Brasil. Muranaga recuou.
"Ele quis acabar com nossa alegria e nós fizemos ele voltar atrás. Ele pode ser rico, mas nós somos unidos", disse Rita S., uma lojista brasileira da província de Aichi.
"Nunca tive problemas sérios com os lojistas. O caso foi inflado pelos meus concorrentes", disse Muranaga à Folha. O empresário se refere ao jornal "Tudo Bem", o segundo maior jornal em português impresso no Japão e com qual trava uma forte competição.
Outra polêmica envolvendo a TV de Muranaga diz respeito à transmissão da Copa do Mundo. No Japão, os direitos exclusivos de transmissão foram comprados pela rede estatal NHK, que transmite a competição por meio de um canal de assinatura.
Muranaga recebe as imagens do Brasil, mas não pode repassá-las aos seus próprios assinantes. Os assinantes antigos reclamaram, dizendo que, pelo contrato que assinaram, teriam direito de assistir aos jogos. Os assinantes novos também protestaram, sustentando que a propaganda da TV induzia o consumidor a achar que a Copa seria transmitida.
Segundo Muranaga, sua empresa não tem nenhuma responsabilidade. "É uma pena não podermos transmitir os jogos, mas não podemos fazer nada. A NHK comprou os direitos e temos de respeitar isso", diz ele. (MA)



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