São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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Rindo de si, Gerald Thomas espalha peças pelo mundo


O diretor estréia peça na Croácia, completa uma "trilogia da guerra" com duas óperas na Alemanha e prepara montagem para a Broadway


CYNARA MENEZES
da Reportagem Local

"Três Tristes Thomas." Parecia o título perfeito para uma reportagem sobre o que o diretor de teatro Gerald Thomas chama de sua "trilogia da guerra" -além do mais, tinha inspiração literária, o que, nesse mundo de citações e referências, já se sabe, vale muito.
Não fosse por um pequeno detalhe: aos 44 anos, o diretor brasileiro, filho de mãe inglesa e pai alemão, com sua trilogia em cartaz em Zagreb (Croácia), Bonn e Weimar (Alemanha), está tão longe da palavra "triste" quanto de fincar raízes em alguma parte.
"O tempo me fez mais humorístico, mais canastrão. Ou talvez tenha dado ao público a capacidade de reconhecer o meu humor", diz, explicando que, lá pelos 80, quando se dizia que "ninguém entendia Gerald Thomas", seu teatro "de fumacinhas" já era engraçado.
"Em 86, o mesmo Luiz Damasceno, que faz "Nowhere Man" agora, tinha uma cena, sentado, com um ator alto, em pé. Damasceno dizia: "Meu problema é que nunca fiquei de pé". E o outro respondia: "Meu problema é que nunca sentei". Era engraçadíssimo, mas as pessoas riam menos do que em "Flash and Crash", por exemplo."
"The Flash and Crash Days", que reuniu Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, revelou um Thomas bem-humorado e seu lado "roqueiro", como se define.
Reparando bem, também soam bastante cômicos os títulos de outra trilogia sua, o da B.E.S.T.A. (Beatificação da Estética Sem Tanta Agonia), e o da peça M.O.R.T.E. (Movimentos Obsessivos e Redundantes para Tanta Estética), ambos, como "Flash", do início dos anos 90.
Em "Nowhere Man", que estréia no Festival Internacional de Teatro de Zagreb (Eurokaz) no próximo dia 23, Gerald Thomas leva o humor tão a sério a ponto de vencer o desafio de rir de si próprio, em falas que ironizam o discurso "conceitual" da intelectualidade.
O ator Luiz Damasceno, para quem Thomas escreveu o texto, é um Fausto que procura seu "antimestre" Mefisto na figura de um mendigo. O Mefisto, que é e não é, escuta (ou não) por longo tempo o discurso pomposo de seu possível discípulo antes de revelar ao Fausto/Thomas que é surdo.
Também é um texto que fala de um homem que vem de lugar nenhum (daí o título em inglês), "um cara culturalmente desterrado, porque acha que a era moderna chegou ao fim", definições que se ajustariam a Gerald Thomas como um par de jeans e camiseta negros.
"Um crítico do New York Times escreveu uma coisa que me emocionou: "Quão verdadeira é a verdade'", diz. O diretor ri e assume o lado autobiográfico do texto, que estreou no Brasil em 96 e volta ao cartaz em julho, em São Paulo.
Em Zagreb, "Nowhere Man" será apresentado em uma adaptação bem ao gosto do poliglota Thomas: metade em inglês, metade em português e com uma parte gravada em croata.


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