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José Sarney, em meio a garimpeiros no Amapá, durante pesquisas que fez para criar "Saraminda"

Personagem-título é uma mulher de seios dourados que enlouquece os homens no garimpo

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Saraminda era uma garota "créole", nativa do Caribe, neta da dona de um bordel de Caiena, Guiana, leiloada ainda virgem numa casa de prostituição. Ela enlouquecia os homens, andava nua pela casa e tinha a pele escura, os olhos verdes e os bicos dos seios dourados, como o ouro.
Ela é a personagem de "Saraminda", que chega às livrarias no próximo sábado. O autor tem como marca um bigodão, aparece em público circunspecto, por vezes com o fardão da Academia Brasileira de Letras. É um escritor que virou acidentalmente presidente do Brasil e, a cada ano, debruça-se sobre desejos libidinosos e o tormento de fantasmas.
O autor é o senador José Sarney (PMDB-AP), colunista da Folha, que já tinha dois livros publicados, "Norte das Águas" (ed. Martins, 69) e "Marimbondos de Fogo" (ed. Artenova, 79), quando virou presidente, em 85.
Em "Saraminda", tudo se passa no século 19. E tudo não passa de um golpe. Saraminda não era virgem. Era índia, enganou os machos do pedaço, vendia-se pelo ouro, mas teve um só amor.
Saraminda entra para o time das personagens dúbias da literatura brasileira, como Capitu e Diadorim. Era a maior safada da floresta ou detonou a maior história de amor já testemunhada por garimpeiros, vagabundos e aventureiros? "José Sarney é um escritor a quem o político José Sarney tem causado graves prejuízos", escreveu Jorge Amado. Tem?
Em 95, Sarney publicou o seu primeiro romance, "O Dono do Mar" (ed. Siciliano), que vendeu 40 mil cópias no Brasil, foi lançado em vários países e teve admiradores como Darcy Ribeiro e Lévi-Strauss, que chamou-o de "obra monumental".



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