São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


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PERSONALIDADE
Velório não aconteceu na Mangueira porque para a sambista quadra da escola é um lugar de alegria e de festa
Dona Neuma morre no Rio aos 78 anos

DA SUCURSAL DO RIO

Neuma Gonçalves da Silva, a dona Neuma, 78, integrante da Velha Guarda da Mangueira, morreu ontem, às 12h20, no hospital municipal Salgado Filho, no Méier (zona norte do Rio), com diagnóstico de acidente vascular cerebral hemorrágico.
"Autoridade moral" da Estação Primeira de Mangueira, ela deixa três filhas, quatro netos, três bisnetos e dezoito "filhos de criação", entre eles Antonio Carlos Bernardes Gomes, o humorista Mussum (morto em 1994).
Dona Neuma era filha de Saturnino Gonçalves, um dos sete fundadores da Mangueira, em 1928. Para os amigos e integrantes da escola e de sua comunidade, na zona norte do Rio, era vista como a primeira-dama do samba.
Em 6 de julho deste ano, foi internada depois de sentir tonturas e desmaiar em sua casa. Diagnosticado o acidente vascular, passou por cirurgia para retirar um coágulo no cérebro. Desde então, estava em coma na UTI do hospital.
"Ela era hipertensa. Já chegou ao hospital com uma hemorragia extensa e uma diminuição acentuada da consciência", afirmou a médica Eleonora Bessa Willecke.
Desde ontem às 16h, artistas e amigos velaram dona Neuma no Memorial do Carmo, próximo ao cemitério do Caju, onde ela será enterrada hoje, às 10h.
"Estamos satisfazendo uma vontade sua. Ela sempre pediu para não ser velada na quadra da escola porque para ela esse é um local de alegria, de festa", afirmou Percival Pires, 59, ex-presidente da Mangueira, que foi criado por dona Neuma.
"Foi como se a Mangueira perdesse um pedaço, um braço. Ela era parte da nossa história, a nossa primeira-dama, e até na hora de morrer se preocupou conosco. Esperou dez dias para nos preparar e só então se foi", disse, com a voz embargada, Elmo dos Santos, o atual presidente da escola.
Durante o velório, a sambista foi homenageada com uma bandeira da escola sobre seu caixão e com o toque ininterrupto de um surdo.
"Fomos criadas e estivemos juntas por 72 anos. Vou sentir falta daquele carinho que as pessoas tinham por nós", disse dona Zica, viúva do compositor Cartola e também integrante da Velha Guarda. Ela foi a primeira a se aproximar do corpo quando este chegou ao Memorial do Carmo.
Para o compositor e amigo pessoal Hermínio Belo de Carvalho, dona Neuma "era uma página viva da história da Mangueira". "Vou sempre me lembrar dela bebendo cerveja com os amigos no Buraco Quente (área do morro da Mangueira). Todos nós éramos discípulos dela. Neuma não deixa sucessores", disse o compositor.


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