|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERSONALIDADE
Velório não aconteceu na Mangueira porque para a sambista quadra da escola é um lugar de alegria e de festa
Dona Neuma morre no Rio aos 78 anos
DA SUCURSAL DO RIO
Neuma Gonçalves da Silva, a
dona Neuma, 78, integrante da
Velha Guarda da Mangueira,
morreu ontem, às 12h20, no hospital municipal Salgado Filho, no
Méier (zona norte do Rio), com
diagnóstico de acidente vascular
cerebral hemorrágico.
"Autoridade moral" da Estação
Primeira de Mangueira, ela deixa
três filhas, quatro netos, três bisnetos e dezoito "filhos de criação", entre eles Antonio Carlos
Bernardes Gomes, o humorista
Mussum (morto em 1994).
Dona Neuma era filha de Saturnino Gonçalves, um dos sete fundadores da Mangueira, em 1928.
Para os amigos e integrantes da
escola e de sua comunidade, na
zona norte do Rio, era vista como
a primeira-dama do samba.
Em 6 de julho deste ano, foi internada depois de sentir tonturas
e desmaiar em sua casa. Diagnosticado o acidente vascular, passou
por cirurgia para retirar um coágulo no cérebro. Desde então, estava em coma na UTI do hospital.
"Ela era hipertensa. Já chegou
ao hospital com uma hemorragia
extensa e uma diminuição acentuada da consciência", afirmou a
médica Eleonora Bessa Willecke.
Desde ontem às 16h, artistas e
amigos velaram dona Neuma no
Memorial do Carmo, próximo ao
cemitério do Caju, onde ela será
enterrada hoje, às 10h.
"Estamos satisfazendo uma
vontade sua. Ela sempre pediu
para não ser velada na quadra da
escola porque para ela esse é um
local de alegria, de festa", afirmou
Percival Pires, 59, ex-presidente
da Mangueira, que foi criado por
dona Neuma.
"Foi como se a Mangueira perdesse um pedaço, um braço. Ela
era parte da nossa história, a nossa primeira-dama, e até na hora
de morrer se preocupou conosco.
Esperou dez dias para nos preparar e só então se foi", disse, com a
voz embargada, Elmo dos Santos,
o atual presidente da escola.
Durante o velório, a sambista foi
homenageada com uma bandeira
da escola sobre seu caixão e com o
toque ininterrupto de um surdo.
"Fomos criadas e estivemos
juntas por 72 anos. Vou sentir falta daquele carinho que as pessoas
tinham por nós", disse dona Zica,
viúva do compositor Cartola e
também integrante da Velha
Guarda. Ela foi a primeira a se
aproximar do corpo quando este
chegou ao Memorial do Carmo.
Para o compositor e amigo pessoal Hermínio Belo de Carvalho,
dona Neuma "era uma página viva da história da Mangueira".
"Vou sempre me lembrar dela bebendo cerveja com os amigos no
Buraco Quente (área do morro da
Mangueira). Todos nós éramos
discípulos dela. Neuma não deixa
sucessores", disse o compositor.
Texto Anterior: Arnaldo Jabor: Não se fazem mais canalhas como antigamente Próximo Texto: Dama do samba viu a escola nascer Índice
|