São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O PORTUGUÊS NOSSO DE CADA DIA

Língua viva


Professor paulista lança dicionário que registra as palavras mais usadas em livros, jornais e revistas no Brasil desde a década de 50


FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo dicionário. "Outro?", pode perguntar o leitor. Um diferente, que trabalhe como um registro mais próximo do que se lê e escreve todos os dias nessas terras onde veio parar e cresce "a última flor do lácio, inculta e bela".
É isso o que promete ser o "Dicionário de Usos do Português do Brasil", trabalho de quase uma década empreendido pelo professor Francisco Borba, 69, e equipe.
O "DUP" -como também é chamado o novo léxico, que a Ática lança no começo de agosto- pode se vender como depositário da língua viva brasileira, pelo fato de se basear somente em textos produzidos no país, da década de 50 para cá. Sua fonte de dados não são outros dicionários, mas textos de livros, revistas e jornais.
Os números do volume não são superlativos, como os do "Aurélio" ou os do "Houaiss". Enquanto seus "colegas" têm de 2.100 a 3.000 páginas, o "DUP" beira as 1.700. Traz cerca de 62.800 verbetes, contra 160 mil do "Aurélio" e 228.500 do "Houaiss". Onde estão, então, seus predicados?
De Araraquara, onde mantém, na Universidade Estadual Paulista, um laboratório de lexicografia, Borba responde: "É inédito no português um dicionário feito a partir do uso direto do idioma".
O professor explica que seu trabalho não pretende "competir" com dicionários existentes, mas somar-se a eles. "Nem a editora compreendeu bem essa história", diz, lembrando que o "DUP" deveria ter nascido em outubro de 2001, "mas aí saiu o "Houaiss'".
Assim, compreendemos que o novo volume não tem nenhuma pretensão de ser exaustivo das "possibilidades" do português, nem dar conta das origens históricas de cada termo -qualidades prezadas, por exemplo, por Antonio Houaiss, que era filólogo.
"O "DUP" não é de possibilidades de ocorrências, mas de ocorrências reais", resume Borba -que, como linguista, se dedica ao emprego prático do idioma.
Mais confortavelmente, podemos dizer que o "DUP" é como um termômetro, registrando quais palavras aparecem mais no português escrito no Brasil, e como: além de trazer definição e sinônimos, o léxico "encaixa" os verbetes em situações de sua aplicação.
Medindo o pulso do idioma usado no Brasil, o "DUP" pretende "atender à recepção e criação do texto". Para tanto, traz também a sintaxe e regras, como as de regência, normalmente encontradas em dicionários específicos.
"O "DUP" é predominantemente de contextos, não inventados por nós, analistas, mas os que estão nos jornais, revistas, livros técnicos, romances", define.
Atentar para o contexto, porém, permite mais do que dividir palavras em corriqueiras ou raras. "As palavras vêm em ondas e são testemunhas do tempo", lembra Borba. E exemplifica, citando a "triste história da chacina". Até os anos 90, diz, o termo e suas derivações eram pouco usados. "Hoje em dia, é banal em qualquer jornal". Só na Folha, entre 96 e 99, Borba contou 1.275 ocorrências.


DICIONÁRIO DE USOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL - de: Francisco S. Borba e colaboradores. Editora: Ática (tel. 0/xx/ 11/3346-3000; www.atica.com.br). Primeira edição. 1.688 págs. R$ 119,90.



Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Dois verbetes do "Dup"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.