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"Filme Noir" recria no teatro sensação de cinema
A carioca Cia. PeQuod apresenta pela primeira vez em São Paulo seu espetáculo de bonecos feito para adultos, com referências pop
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Misteriosos vultos de preto
acompanham toda a cena de
"Filme Noir", que a carioca Cia.
PeQuod leva hoje e amanhã ao
Sesc Pompéia, em São Paulo.
São os atores-manipuladores
dos bonecos de madeira e fibra
de vidro que, estes sim, estrelam a peça, inspirada no estilo
de cinema que lhe dá nome.
Apesar de o protagonista não
ter mais de 80 cm e os peitos da
mocinha serem de espuma, a
peça (para adultos) tem flashback, morte, sedução e quaisquer outros artifícios do gênero
em que se possa pensar.
No palco, o detetive Race é
acionado por Veronika de Vitta,
ao mesmo tempo suspeita e vítima de uma persistente sensação de estar sendo seguida. Hipótese 1: é ela a assassina de
Amadeo Pino, dono do clube
onde canta e que passa, então,
ao comando do irmão de Amadeo, Guido (em quem pairam as
desconfianças na hipótese 2).
A companhia transmite o clima de policial dos anos 40
apropriando-se de recursos como a narração em off, na voz de
Renato Peres, e a cena em preto-e-branco, com ajuda de figurino e iluminação. Esta última,
de Renato Machado, levou o
Prêmio Shell de Teatro em
2005, que também agraciou a
peça pela criação e manipulação dos bonecos.
Recursos de cinema
"Buscamos recriar a sensação de cinema com procedimentos como o "travelling", o
close, as mudanças espaciais
com mais de um boneco em cena [cada um deles tem um "gêmeo'], imprimindo uma situação de edição", diz o diretor e
roteirista Miguel Vellinho, 40
(ex-Grupo Sobrevento).
Por "travelling", no teatro de
animação, entenda-se o deslocamento dos balcões-cenário,
"dando a idéia de um plano que
vai se estabelecendo ao redor
da cena". Focos de luz cumprem o papel de close. A paródia usa ainda metalinguagem e
um humor despudoradamente
ingênuo -ao ver a boneca dublando "Blow a Fuse" com voz
de Betty Hutton (aquela que
Björk regravou como "It's Oh
So Quiet"), Race desconfia: "Tinha a nítida impressão de que
sua boca não se movia".
O grupo optou pelo público
adulto, segundo Vellinho, por
"existir muito a ser discutido
no teatro de bonecos". Na peça
mais recente, que estreou em
2006 no Rio, o desafio foi "Peer
Gynt", de Henrik Ibsen (1828-1906). "É preciso trazer para o
teatro de bonecos esse teatro
de repertório. Não é só entretenimento, como muita gente
pensa." Para vencer a desconfiança inicial da platéia, a Cia.
PeQuod se alimenta, ainda, de
linguagem pop, com referências a HQ, literatura, música e
fotografia.
FILME NOIR
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às
16h30 e 21h
Onde: teatro do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, São Paulo, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 5 a R$ 15
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