São Paulo, quarta-feira, 18 de julho de 2007

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"Filme Noir" recria no teatro sensação de cinema

A carioca Cia. PeQuod apresenta pela primeira vez em São Paulo seu espetáculo de bonecos feito para adultos, com referências pop

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Misteriosos vultos de preto acompanham toda a cena de "Filme Noir", que a carioca Cia. PeQuod leva hoje e amanhã ao Sesc Pompéia, em São Paulo. São os atores-manipuladores dos bonecos de madeira e fibra de vidro que, estes sim, estrelam a peça, inspirada no estilo de cinema que lhe dá nome.
Apesar de o protagonista não ter mais de 80 cm e os peitos da mocinha serem de espuma, a peça (para adultos) tem flashback, morte, sedução e quaisquer outros artifícios do gênero em que se possa pensar.
No palco, o detetive Race é acionado por Veronika de Vitta, ao mesmo tempo suspeita e vítima de uma persistente sensação de estar sendo seguida. Hipótese 1: é ela a assassina de Amadeo Pino, dono do clube onde canta e que passa, então, ao comando do irmão de Amadeo, Guido (em quem pairam as desconfianças na hipótese 2).
A companhia transmite o clima de policial dos anos 40 apropriando-se de recursos como a narração em off, na voz de Renato Peres, e a cena em preto-e-branco, com ajuda de figurino e iluminação. Esta última, de Renato Machado, levou o Prêmio Shell de Teatro em 2005, que também agraciou a peça pela criação e manipulação dos bonecos.

Recursos de cinema
"Buscamos recriar a sensação de cinema com procedimentos como o "travelling", o close, as mudanças espaciais com mais de um boneco em cena [cada um deles tem um "gêmeo'], imprimindo uma situação de edição", diz o diretor e roteirista Miguel Vellinho, 40 (ex-Grupo Sobrevento).
Por "travelling", no teatro de animação, entenda-se o deslocamento dos balcões-cenário, "dando a idéia de um plano que vai se estabelecendo ao redor da cena". Focos de luz cumprem o papel de close. A paródia usa ainda metalinguagem e um humor despudoradamente ingênuo -ao ver a boneca dublando "Blow a Fuse" com voz de Betty Hutton (aquela que Björk regravou como "It's Oh So Quiet"), Race desconfia: "Tinha a nítida impressão de que sua boca não se movia".
O grupo optou pelo público adulto, segundo Vellinho, por "existir muito a ser discutido no teatro de bonecos". Na peça mais recente, que estreou em 2006 no Rio, o desafio foi "Peer Gynt", de Henrik Ibsen (1828-1906). "É preciso trazer para o teatro de bonecos esse teatro de repertório. Não é só entretenimento, como muita gente pensa." Para vencer a desconfiança inicial da platéia, a Cia. PeQuod se alimenta, ainda, de linguagem pop, com referências a HQ, literatura, música e fotografia.

FILME NOIR


Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 16h30 e 21h
Onde: teatro do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, São Paulo, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 5 a R$ 15



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