|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIDA BANDIDA
Retidão
VOLTAIRE DE SOUZA
O tempo passa depressa. Já
começou o horário eleitoral.
O doutor Nereu tinha pouca
paciência. Viúvo. Hábitos sedimentados. Ligou a TV. Em
vez do programa habitual, os
candidatos. Resmungava.
"Imoralidade." Comeu uma
torradinha. "Pouca vergonha." Mais vereadores. "É
obsceno. Obsceno!" Sua raiva
chamou a atenção da empregada Conceição. Fiel servidora dos caprichos daquele homem solitário. "O que foi, dr.
Nereu?" O rosto do sexagenário estava rubro de indignação. A doméstica desabotoou
seu colarinho. "Sem-vergonhice...", repetia o patrão. Nenhum dos dois sabe explicar.
O beijo e o sexo se fizeram ao
som dos discursos eleitorais.
"Isso, Nereu. Retidão." Não
existe horário para a democracia no amor.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Cinema/Estréias: "Só Tom Selleck não se livrou de Magnun" Índice
|