|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cinema
Crítica/"Almas Reencarnadas"
Shimizu cria o realismo fantasmagórico
LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Rinne.
1. Expressão budista
que, em japonês, simboliza a reencarnação.
2. Título original de filme japonês que estréia hoje no Brasil
e simboliza medo, muito medo.
Takashi Shimizu faz parte do
pequeno grupo de cineastas do
Japão que, nos últimos anos,
caiu nas graças do Ocidente e
da indústria americana de cinema. O motivo foi "O Grito", história de horror sobre uma casa
e uma família amaldiçoadas.
Filmada inicialmente em 2003,
com verba e elenco japoneses,
foi sucesso nacional e ganhou
uma versão gringa, rodada em
Tóquio em 2004, com verba e
elenco americanos.
"O Grito" transformou Shimizu no primeiro diretor japonês a chegar ao primeiro lugar
de bilheteria nos EUA e rendeu
uma continuação, "O Grito 2",
feita neste ano e que chegará
aos cinemas em outubro.
Após "O Grito" e antes de "O
Grito 2", Takashi Shimizu teve
tempo para mergulhar em
"Rinne", produção 100% japonesa, batizada por aqui como
"Almas Reencarnadas" e lançada hoje em 55 salas das principais cidades do país.
Por e-mail, Shimizu disse à
Folha que o caráter japonês da
produção lhe garantiu "muito
mais liberdade de criação" do
que em suas incursões em
Hollywood. O resultado dessa
liberdade é notável.
O diretor, que também assina o roteiro, narra em "Rinne"
a história da produção de um
filme de horror inspirado em
um suposto caso real. Em 1970,
em um hotel turístico, um professor universitário, antes de se
suicidar, mata 11 pessoas, entre
hóspedes, funcionários, sua
mulher e seus dois filhos.
A trama começa a tomar forma quando Matsumura (Kippei Shiina), o diretor desse filme dentro do filme, escolhe
uma atriz desconhecida para
um papel central da produção.
A novata é Nagisa Sugiura,
personagem que ganha uma interpretação perturbadora de
Yuuka, jovem e famosa atriz da
TV japonesa. É dela um dos
mais eletrizantes gritos do recente cinema de horror, numa
cena em que, durante a gravação do filme fictício, sua personagem tem uma visão do professor assassino.
Visões e sonhos dos personagens são outro ponto bem explorado por Shimizu. O diretor
funde pesadelos e alucinações
ao cotidiano, e surgem na vida
real objetos de delírios de Nagisa, como a câmera de 8 mm que
o professor usa para registrar
seus crimes. Para o diretor, tal
estrutura dá ao filme "um gosto
de fantasia", mais do que de
horror. Esse sabor de realismo
fantástico permeia a história,
mas o que predomina mesmo é
o realismo fantasmagórico.
Na engenhosa seqüência final, Shimizu intercala imagens
desse filme de 8 mm, cenas
reais e um longo delírio de Nagisa, que enfim descobre a causa de seu drama, num clímax
sufocante e surpreendente.
ALMAS REENCARNADAS
Direção: Takashi Shimizu
Produção: Japão, 2005
Com: Yuuka, Kippei Shiina
Quando: em cartaz a partir de hoje nos
cines Metrô Santa Cruz, SP Market,
Jardim Sul e circuito
Texto Anterior: Futebol vence o cinema no Festival de Gramado Próximo Texto: Crítica/"A Casa do Lago": Argentino dirige com desenvoltura romance cercado por clima fantástico Índice
|