São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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Cinema

Crítica/"Almas Reencarnadas"

Shimizu cria o realismo fantasmagórico

LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Rinne.
1. Expressão budista que, em japonês, simboliza a reencarnação.
2. Título original de filme japonês que estréia hoje no Brasil e simboliza medo, muito medo.
Takashi Shimizu faz parte do pequeno grupo de cineastas do Japão que, nos últimos anos, caiu nas graças do Ocidente e da indústria americana de cinema. O motivo foi "O Grito", história de horror sobre uma casa e uma família amaldiçoadas.
Filmada inicialmente em 2003, com verba e elenco japoneses, foi sucesso nacional e ganhou uma versão gringa, rodada em Tóquio em 2004, com verba e elenco americanos.
"O Grito" transformou Shimizu no primeiro diretor japonês a chegar ao primeiro lugar de bilheteria nos EUA e rendeu uma continuação, "O Grito 2", feita neste ano e que chegará aos cinemas em outubro. Após "O Grito" e antes de "O Grito 2", Takashi Shimizu teve tempo para mergulhar em "Rinne", produção 100% japonesa, batizada por aqui como "Almas Reencarnadas" e lançada hoje em 55 salas das principais cidades do país. Por e-mail, Shimizu disse à Folha que o caráter japonês da produção lhe garantiu "muito mais liberdade de criação" do que em suas incursões em Hollywood. O resultado dessa liberdade é notável.
O diretor, que também assina o roteiro, narra em "Rinne" a história da produção de um filme de horror inspirado em um suposto caso real. Em 1970, em um hotel turístico, um professor universitário, antes de se suicidar, mata 11 pessoas, entre hóspedes, funcionários, sua mulher e seus dois filhos.
A trama começa a tomar forma quando Matsumura (Kippei Shiina), o diretor desse filme dentro do filme, escolhe uma atriz desconhecida para um papel central da produção.
A novata é Nagisa Sugiura, personagem que ganha uma interpretação perturbadora de Yuuka, jovem e famosa atriz da TV japonesa. É dela um dos mais eletrizantes gritos do recente cinema de horror, numa cena em que, durante a gravação do filme fictício, sua personagem tem uma visão do professor assassino. Visões e sonhos dos personagens são outro ponto bem explorado por Shimizu. O diretor funde pesadelos e alucinações ao cotidiano, e surgem na vida real objetos de delírios de Nagisa, como a câmera de 8 mm que o professor usa para registrar seus crimes. Para o diretor, tal estrutura dá ao filme "um gosto de fantasia", mais do que de horror. Esse sabor de realismo fantástico permeia a história, mas o que predomina mesmo é o realismo fantasmagórico.
Na engenhosa seqüência final, Shimizu intercala imagens desse filme de 8 mm, cenas reais e um longo delírio de Nagisa, que enfim descobre a causa de seu drama, num clímax sufocante e surpreendente.


ALMAS REENCARNADAS    
Direção: Takashi Shimizu
Produção: Japão, 2005
Com: Yuuka, Kippei Shiina
Quando: em cartaz a partir de hoje nos cines Metrô Santa Cruz, SP Market, Jardim Sul e circuito


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