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Crítica/"A Casa do Lago"
Argentino dirige com desenvoltura romance cercado por clima fantástico
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Os argentinos são próximos do gênero fantástico, e talvez venha daí
a desenvoltura com que Alejandro Agresti dirige "A Casa do
Lago", onde a médica Kate
(Sandra Bullock) vive um romance epistolar com o arquiteto Alex (Keanu Reeves). A particularidade desse amor é que o
tempo de sua existência não está sincronizado, ou seja, ela vive
dois anos à frente dele.
O cinema é o lugar mais propício ao encontro da realidade
com a imaginação, e é possível
lembrar de filmes notáveis em
que humanos e fantasmas convivem, como "Contos da Lua
Vaga", de Kenji Mizoguchi.
O fantástico é um registro em
que o mistério dos seres é o que
mais se preserva. Em "A Casa
do Lago", os personagens têm
algo de tão óbvio que chega a se
tornar incômodo. Kate vive
correndo atrás de pacientes na
pior e não tem tempo para romance. Alex é arquiteto, filho
de um arquiteto famoso.
O que eles têm de comum é a
casa. Ao sair dali, a médica deixa um bilhete para o futuro habitante. Ele responde. Logo
percebem que ela está em 2006
e ele em 2004. O fato não os impede de descobrir grandes afinidades, e iniciam um namoro
epistolar dentro de um filme
arquitetônico. Tudo gira em
torno de construções. Em especial dessa casa em que Kate e
Alex moram em momentos diferentes. Ela foi desenhada pelo pai de Alex. Habitá-la é um
desafio; ela é a metáfora da solidão dos protagonistas.
Pois Kate e Alex são dois solitários -e podemos imaginar
que um inventa o personagem
do outro apenas para evitar que
seu desencontro com o mundo
seja mais completo. Essa é a característica mais marcante deste filme: a melancolia de seus
protagonistas, que parece ser
seu verdadeiro lar.
"A Casa do Lago" tem pontos
muito fortes. Seu melhor momento talvez seja a preparação
para o fantástico encontro no
restaurante onde os protagonistas combinam um jantar
(um deles, para amanhã; o outro, para dali a dois anos e um
dia). O descabelado romantismo do roteiro também é muito
interessante: tratando-se de
um amor impossível, entre pessoas que vivem em dimensões
diferentes, parece evocar "O
Morro dos Ventos Uivantes".
Seus pontos fracos também
existem: a necessidade de coloquializar uma situação inusual
enfraquece a atmosfera fantástica e impede que o filme leve à
ficção uma radicalidade que sugere, mas que, no fim, evita. Entre pontos fortes e fracos, é um
filme acima da média.
A CASA DO LAGO
Direção: Alejandro Agresti
Produção: EUA, 2006
Com: Keanu Reeves, Sandra Bullock
Quando: em cartaz nos cines Continental, Interlagos e circuito
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