São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obra de Rogério Duarte ganha projeção

Livro sobre design dos anos 60 contribui para reconhecimento do trabalho do designer gráfico

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Rogério Caos. O apelido criado pelo dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, tenta sintetizar o fluxo criativo do designer, poeta e músico Rogério Duarte, 67, cuja obra vem, pouco a pouco, ampliando seu reconhecimento, em especial a dos anos 60. Duarte assinou algumas das principais capas de discos da Tropicália e de cartazes de filmes do Cinema Novo.
Ele é foco de um capítulo do livro "O Design Gráfico Brasileiro Anos 60", organizado por Chico Homem de Melo (Cosacnaify), e participou no começo do mês de debate na 1ª Bienal Brasileira de Design, em SP.
No livro, sua obra é colocada em relevo como registro visual do Tropicalismo e ponta de lança do design pós-moderno, entendido como movimento plural e heterogêneo.
Duarte não gosta do apelido a ele conferido por Vianinha. "Acho que, apesar de carinhoso, acarreta uma certa incompreensão da minha complexidade. Coloquei questões que desafiavam o simplismo e o esquematismo, sobretudo da esquerda dos anos 60, mas nunca fui confuso. Busquei a clareza e a harmonia", afirma à Folha.
O designer baiano minimiza sua produção mais famosa, presente em álbuns e imagens de divulgação de filmes, como em "Caetano Veloso" (1968), primeiro disco solo do compositor, e no clássico cartaz do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), de Glauber Rocha. "A participação no Cinema Novo e na Tropicália foi apenas um fragmento da minha vida", afirma Duarte, que prepara um manual de comunicação visual para escolas, além de trabalhar como artista multimídia.
Nascido em Itabira (BA), Duarte mudou-se para o Rio em 1960. Lá, teve aulas de design na Escola de Belas Artes e no MAM (Museu de Arte Moderna), onde Alexandre Wollner e Otl Aicher foram alguns de seus professores. Em 1961, integrou a equipe de Aloisio Magalhães -em cujo escritório foram desenvolvidas a marca da Fundação Bienal e toda a identidade visual da Petrobras.
Duarte não vê com perspectiva crítica a influência de escolas modernas, como Bauhaus e Ulm, no design feito no Brasil. "A Escola de Ulm foi o cemitério da Bauhaus", reflete. "Ali, a tecnocracia capitalista derrotou o que havia de espiritualidade na Bauhaus. Apesar disso, foi importante pela transferência de tecnologia para o nosso design "terceiro mundista'".
Sobre o desenvolvimento do design no Brasil, Duarte é otimista. "Temos hoje no Brasil excelentes designers gráficos, até muito mais do que antes. Em muitos casos, o design brasileiro é rebelde, criativo e de grande vitalidade", afirma ele.


Texto Anterior: Última Moda: Americanos buscam fonte da juventude em Ipanema
Próximo Texto: Exposição e livro revêem trajetória de Paulo Pasta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.