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Novo livro do autor de "O Caçador de Pipas" já é nš 1
"A Cidade do Sol", de Khaled Hosseini, está em primeiro entre mais vendidos
Tiragem inicial no Brasil foi de 300 mil cópias; para se ter uma idéia, sexto "Harry Potter", fadado a best-seller, saiu em 2005 com 350 mil
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
A barbada era esperada. Lançado no Brasil na semana passada, o segundo romance de
Khaled Hosseini, 42, autor do
best-seller "O Caçador de Pipas", já está em primeiro lugar
nas listas de mais vendidos. A
tiragem inicial de 300 mil
exemplares de "A Cidade do
Sol" já foi toda distribuída e a
editora Nova Fronteira vai imprimir outras 100 mil cópias.
Para se ter uma idéia do feito,
"Harry Potter e o Enigma do
Príncipe", sexto volume da série de J.K. Rowling, fadado a ser
bst-seller, foi lançado em 2005
com 350 mil exemplares.
Médico, afegão radicado nos
Estados Unidos desde 1980,
Hosseini disse à Folha que,
apesar de o novo livro ter o Afeganistão como pano de fundo, e
cobrir praticamente o mesmo
período de tempo do romance
anterior, não se deve esperar
uma mera seqüência de "O Caçador de Pipas". Leia a seguir
entrevista com o autor.
FOLHA - "A Cidade do Sol" conta a
história da amizade entre duas mulheres e tem como cenário o Afeganistão em meio a conflitos. O leitor
lerá uma espécie de seqüência de "O
Caçador de Pipas"?
HOSSEINI - O romance não é
uma continuação de "O Caçador de Pipas". Ele se passa no
Afeganistão e lida com um segmento da população que não
era relevante no primeiro livro:
as mulheres afegãs. Dito isso,
este romance também é, na essência, uma história de amor,
como "O Caçador de Pipas".
Enquanto o primeiro romance
era sobre o amor entre homens,
irmãos, pais e filhos, "A Cidade
do Sol" é uma história sobre a
maternidade e o amor entre
mães e filhas. O romance também fala como o amor pode
ajudar uma pessoa a transcender seus próprios limites e fraquezas. E, como no primeiro livro, talvez até mais, "A Cidade do Sol" é uma crônica dos eventos que aconteceram no Afeganistão nos últimos 30 anos.
Com foco no modo como a invasão soviética, a guerra civil, o
Talebã e seu extremismo, afetaram as mulheres.
FOLHA - Como foi a pressão para
escrever o segundo romance?
KHALED HOSSEINI - Boa parte da
pressão foi feita por mim mesmo. Meu agente e editores não
me apressaram. Eu queria muito contar a história de Laila e
Mariam, e a pressão consistia
em achar o caminho. A história
foi ficando ambiciosa e houve
dias em que eu pensei que o livro ia morrer. Nesses dias a
pressão era palpável. Mas a história adquiriu vida própria e
quando eu estava completamente imerso no mundo dessas mulheres ela evaporou.
FOLHA - Onde buscou estas vozes
femininas?
HOSSEINI - Havia toda uma faceta da sociedade afegã que eu
não havia abordado no primeiro livro. Uma paisagem fértil
em termos de idéias para histórias. Afinal, tanta coisa aconteceu com as mulheres afegãs nos
últimos 30 anos, especialmente
depois que os soviéticos saíram
e os conflitos entre facções começaram. Com a guerra civil,
elas foram sujeitas a abusos de
direitos humanos, desde casamentos forçados até estupros.
Foram raptadas e vendidas para a prostituição. Quando os
Talebãs chegaram, eles impuseram restrições às mulheres,
limitando seu movimento, expressão, impedindo que trabalhassem ou se educassem, assediando-as, humilhando-as.
Na primavera de 2003, eu fui a Cabul e vi umas mulheres vestidas de burca, sentadas nas esquinas, com quatro, cinco, seis crianças, implorando por mudança. Eu as observei andando
aos pares na rua, seguidas de
seus filhos maltrapilhos, e fiquei pensando como a vida as
conduziu até aquele estágio.
Quais eram seus sonhos, esperanças, desejos? Quem eram
seus maridos? O que e quem
elas haviam perdido nas guerras que haviam flagelado o Afeganistão por duas décadas?
Eu conversei com muitas delas. Suas histórias de vida eram
de cortar o coração. Uma delas,
mãe de seis crianças, disse-me
que o marido dela, um policial
de trânsito, não recebia salário
há seis meses. Ela havia pedido
dinheiro a amigos e parentes,
mas como não podia pagar, eles
pararam de emprestar. Soube
de uma viúva que, diante da expectativa de passar fome, pôs
veneno de rato em migalhas de
pão e deu aos filhos, antes de
comer também. Quando comecei a escrever "A Cidade do
Sol", me peguei pensando nessas mulheres resistentes. Embora nenhuma delas tenha inspirado Laila ou Mariam, suas vozes, rostos e incríveis histórias de sobrevivência estavam
sempre comigo. Seu espírito
coletivo é o embrião do livro.
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