São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2007

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"Mutações" reflete sobre o mundo da "tecnociência"

Palestras reúnem intelectuais que estudam a separação entre ciência e pensamento e as possibilidades de conexões

Com organização de Adauto Novaes, ciclo traz especialistas como o geneticista Axel Kahn e o filósofo Jean-Pierre Dupuy

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Os dois primeiros ciclos da trilogia "Cultura e Pensamento em Tempos de Incerteza" -"O Silêncio dos Intelectuais" (2005) e "O Esquecimento da Política" (2006)- ainda foram estruturados a partir da idéia de que o mundo vive uma grande crise. Já em "Mutações - Novas Configurações do Mundo", que começa na segunda-feira no Rio e na quarta-feira em São Paulo, a palavra-chave é transformação.
"Não existe área da atividade humana que não esteja passando por grandes transformações. Mas, se em outros momentos da história havia sistemas de pensamento, como no Iluminismo, agora tudo está se dando no vazio do pensamento", diz Adauto Novaes, organizador dos ciclos.
Esse vazio, segundo o filósofo, se explicaria pela "autonomia da tecnociência". Ou seja, os avanços tecnológicos, cada vez mais velozes e potentes, não têm sólidas bases éticas ou humanistas. "O homem não domina a técnica, mas está dominado por ela. Há uma separação entre ciência e pensamento", diz ele.
Em função disso, a lista de 20 conferencistas inclui intelectuais que estudam essa separação e as possibilidades de conexão, traduzidas em termos como bioética. Entre eles estão o geneticista Axel Kahn, o neurologista Lionel Naccache, o filósofo Jean-Pierre Dupuy -todos franceses- e o brasileiro Luiz Alberto Oliveira.
Quem abre o ciclo no Rio, em Belo Horizonte (terça-feira) e São Paulo -e também em Curitiba e Salvador, que terão versões reduzidas da programação- é o compositor e professor de literatura José Miguel Wisnik. Ele abordará casos de "pensamentos heterodoxos", que seriam exemplares de um período de mutações.
O segundo conferencista é o sociólogo marxista Francisco de Oliveira, que procurará mostrar como a revolução tecnológica reproduz as desigualdades do capitalismo. Petista histórico que se tornou, desde o início do primeiro mandato de Lula, crítico feroz do partido e do governo, ele é um palestrante sempre muito aguardado por causa de suas opiniões sobre o Brasil de hoje.
"A política é um tema fundamental do ciclo. Como vamos lidar com as novas formas de comunicação e todas as transformações por que passamos no século 21 com práticas políticas do século 19?", pergunta Novaes, ressaltando que as mudanças na esfera pública, não acompanhadas pela maioria dos atores políticos, também deixam intelectuais sem ação. "Os intelectuais estão em silêncio porque perderam as bandeiras, não sabem o que anunciar", diz.
Juntamente com o ciclo, está sendo lançado o livro "O Esquecimento da Política" (leia mais abaixo) e a revista de artigos "Cultura e Pensamento", organizada pelo Ministério da Cultura com patrocínio da Petrobras. O Minc e a empresa também apóiam "Mutações".


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