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"Mutações" reflete sobre o mundo da "tecnociência"
Palestras reúnem intelectuais que estudam a separação entre ciência e pensamento e as possibilidades de conexões
Com organização de Adauto Novaes, ciclo traz especialistas como o geneticista Axel Kahn e o filósofo Jean-Pierre Dupuy
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Os dois primeiros ciclos da
trilogia "Cultura e Pensamento
em Tempos de Incerteza" -"O
Silêncio dos Intelectuais"
(2005) e "O Esquecimento da
Política" (2006)- ainda foram
estruturados a partir da idéia
de que o mundo vive uma grande crise. Já em "Mutações - Novas Configurações do Mundo",
que começa na segunda-feira
no Rio e na quarta-feira em
São Paulo, a palavra-chave é
transformação.
"Não existe área da atividade
humana que não esteja passando por grandes transformações. Mas, se em outros momentos da história havia sistemas de pensamento, como no
Iluminismo, agora tudo está se
dando no vazio do pensamento", diz Adauto Novaes, organizador dos ciclos.
Esse vazio, segundo o filósofo, se explicaria pela "autonomia da tecnociência". Ou seja,
os avanços tecnológicos, cada
vez mais velozes e potentes,
não têm sólidas bases éticas ou
humanistas. "O homem não
domina a técnica, mas está dominado por ela. Há uma separação entre ciência e pensamento", diz ele.
Em função disso, a lista de 20
conferencistas inclui intelectuais que estudam essa separação e as possibilidades de conexão, traduzidas em termos como bioética. Entre eles estão o
geneticista Axel Kahn, o neurologista Lionel Naccache, o filósofo Jean-Pierre Dupuy -todos franceses- e o brasileiro
Luiz Alberto Oliveira.
Quem abre o ciclo no Rio, em
Belo Horizonte (terça-feira) e
São Paulo -e também em Curitiba e Salvador, que terão versões reduzidas da programação- é o compositor e professor de literatura José Miguel
Wisnik. Ele abordará casos de
"pensamentos heterodoxos",
que seriam exemplares de um
período de mutações.
O segundo conferencista é o
sociólogo marxista Francisco
de Oliveira, que procurará
mostrar como a revolução tecnológica reproduz as desigualdades do capitalismo. Petista
histórico que se tornou, desde o
início do primeiro mandato de
Lula, crítico feroz do partido e
do governo, ele é um palestrante sempre muito aguardado por
causa de suas opiniões sobre o
Brasil de hoje.
"A política é um tema fundamental do ciclo. Como vamos
lidar com as novas formas de
comunicação e todas as transformações por que passamos
no século 21 com práticas políticas do século 19?", pergunta
Novaes, ressaltando que as mudanças na esfera pública, não
acompanhadas pela maioria
dos atores políticos, também
deixam intelectuais sem ação.
"Os intelectuais estão em silêncio porque perderam as bandeiras, não sabem o que anunciar", diz.
Juntamente com o ciclo, está
sendo lançado o livro "O Esquecimento da Política" (leia
mais abaixo) e a revista de artigos "Cultura e Pensamento",
organizada pelo Ministério da
Cultura com patrocínio da Petrobras. O Minc e a empresa
também apóiam "Mutações".
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