São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Danilo planeja gravar canção inédita do pai, feita há 30 anos

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Há mais de 30 anos guardada pelo caçula Danilo, "Toada à Toa" pode ser a única canção inédita deixada por Dorival Caymmi. A música é uma parceria de pai e filho, que, em seu próximo CD, planeja gravá-la. Dorival teve poucos parceiros. Um deles é Danilo, com quem fez "Vamos Falar de Tereza" (abertura da minissérie "Tereza Batista", da TV Globo, de 1992), "Caminhos do Mar" (também com a participação de Dudu Falcão), "Mãe Stella" e "Velhas Estórias". Com o filho Dori, 64, ele nunca compôs. Danilo, 60, disse, no cemitério São João Batista, pouco antes do sepultamento, não ter condições de citar trechos da canção engavetada pela dupla, mas anunciou planos para a música. "Certamente vou gravar", afirmou ele sobre a canção composta em alguma data esquecida dos anos 70. Questionado pela Folha sobre a possibilidade de haver mais canções perdidas do pai, Danilo demonstrou ceticismo. "Acredito que não. Todas foram gravadas", disse ele, para quem o pai "era um homem simples que nos ensinou a simplicidade (...) e que, como ninguém, soube traduzir a cultura brasileira para o povo simples". Para Danilo, caberá a ele, ao irmão Dori e à irmã Nana a missão de manter viva a obra do pai, "para que ela seja preservada como bem nacional". "A gente está perdendo a parte física do Dorival Caymmi, mas a obra está aí, o emocional está aí. A responsabilidade é grande para honrar a manutenção dessa obra no imaginário do povo brasileiro." Também no cemitério, Dori falou do pai como um artista dentre "tantos desses heróis brasileiros desapegados do helicóptero, da ilha em Angra dos Reis [no litoral fluminense]". "Acho que as pessoas que contribuíram, que fizeram esse trabalho para o Brasil, não deveriam morrer, né? Jorge Amado [1912-2001], Guimarães Rosa [1908-1967], Ary Barroso [1903-1964], Noel Rosa [1910-1937] e não sei quem mais. São tantas essas pessoas..." No velório, na Câmara de Vereadores do Rio, já falara sobre o tema. "Esse Brasil não podia perder esse homem. Não é hora de perder essas pessoas. Está tão vazio, tão "Big Brother". Não é isso que a gente sonhou para o país. Não é isso que ele sonhou. Esses brasileiros não podem morrer. Mesmo que fiquem na memória, deveriam ficar mais tempo para educar a gente, criar uma coisa nova, um Brasil diferente", disse, chegando a declarar que preferia ter morrido antes do pai. Com FABIANE ROQUE , colaboração para a Folha, no Rio



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