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música
Jeff Mills defende virada na carreira
Aos 47, DJ de tecno diz que poucos tentam criar algo único e que ele decidiu agradar a si mesmo, não o público
"Não vou mais tanto a festas pois envelheci e preciso dormir", afirma músico, que toca em São Paulo em setembro
SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO
Seis anos após sua última
passagem pelo Brasil, o DJ e
produtor de tecno americano
Jeff Mills, 47, chega a São
Paulo em setembro para
apresentar uma controversa
fase musical iniciada em
2006 ("The Sleeper Wakes").
Mills trocou o groove frenético e as acrobacias nas picapes -chegou a tocar 70
discos por hora- por um
som mais frio e cerebral.
Uns acham o resultado
digno do visionário que já tocou com orquestra filarmônica e compôs trilha para o
"Metropolis" de Fritz Lang.
Outros dizem que Mills se
perdeu num delírio futurista.
Em entrevista à Folha por
telefone, o DJ, que tocará no
D-Edge, disse não se importar em desagradar aos fãs.
Folha - Por que a guinada no
som que você toca e produz?
Jeff Mills - Passei muito
tempo tocando tecno e house
básicos, o que funcionava
bem, mas não era o que eu
gostava. Isso mudou há quatro anos. Percebi que a única
maneira de me sentir bem era
tocar aquilo em que acreditava e decidi seguir algo mais
orgânico e progressivo.
Há quem diga que o seu set ficou chato, sem pegada.
Há muitos DJs que tocam
exatamente o que as pessoas
querem ouvir, mas pouquíssimos que tentam criar algo
único. Ninguém liga para
quem tenta traduzir em música aquilo que sente.
O som mudou porque eu
mudei. Me casei, tive filhos,
comprei casa, carro. E não
vou mais tanto a festas pois
envelheci e preciso dormir.
Minha vida é diferente, e a
música reflete isso. Não ligo
se as pessoas não gostam. A
relação é entre mim e o meu
equipamento. E nós estamos
muito bem juntos [risos].
Você continua tocando músicas de outros produtores?
Nas lojas de disco há músicas que têm todos os componentes certos para cativar o
ouvinte. São feitas para vender, não para expressar algo.
Por isso acho que 99% do
meu set é composto por faixas minhas.
A inspiração vem de onde?
Tenho facilidade para imaginar alguém viajando numa
nave ou vendo algo de outro
planeta. Também penso em
seres humanos vivendo debaixo da terra. O futuro é
muito sugestivo. Você não
sabe ao certo se aquilo vai estar lá, então você tem que assumir profundamente as
suas escolhas. A música se
presta a isso, por ser infinita.
Por que você sempre fica tão
sisudo quando se apresenta?
Quando eu tinha 18 anos,
os veteranos de Detroit me
explicaram que o DJ precisa
ter sempre o controle da situação mesmo que haja um
incêndio na pista.
Pareço daquele jeito porque não faço parte da festa.
Beber ou fumar são coisas
que me ensinaram a não fazer enquanto toco.
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