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Brasil recebe seu 'dream team' da música erudita
Os instrumentistas Antonio Meneses e Nelson Freire, que só se apresentam no exterior, formam duo e fazem concerto hoje em SP
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IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
O Cultura Artística abriga hoje o
"dream team" da música erudita
brasileira. Com brilhantes carreiras solo, o violoncelista Antonio
Meneses e o pianista Nelson Freire
agora resolveram formar um duo.
O programa traz a "Sonata Op. 5
Nş 2", de Beethoven, a "Sonata
em Fá Maior", de Richard
Strauss, e a "Sonata em Lá Menor", de Grieg.
Meneses e Freire tocaram juntos
pela primeira vez na década de 70.
Na época, o violoncelista era um
"teen" desconhecido que acabara de voltar da Europa, enquanto
Freire já havia vencido concursos
internacionais de piano e tinha
uma carreira estabelecida.
"A minha professora na época
achou que eu deveria mostrar o
que tinha aprendido na Europa,
mas a gente não tinha dinheiro para pagar um bom pianista", conta
Meneses.
"Acontece que ela tinha uma sobrinha que era amiga do Nelson e
acabou fazendo o contato. Foi um
gesto muito bonito da parte dele
aceitar, porque eu ainda era muito
jovem e ele já tinha uma carreira
internacional", diz.
Os artistas mantiveram pouco
contato depois disso, e a idéia de
voltarem a tocar juntos só apareceu em 95. O teste foi uma pequena turnê na França, cujo sucesso
convenceu-os a continuar a experiência.
Dos dois, quem tem grandes novidades a contar é Meneses. O violoncelista é o mais novo integrante
do Beaux Arts Trio, uma das melhores e mais tradicionais formações de câmara do planeta.
"No começo, pensei em não
aceitar, porque não combinaria
com minha carreira de solista. O
trio fazia entre cem e 120 concertos por ano, e não iria sobrar tempo para mais nada", conta.
"Depois, quando me disseram
que esse número seria cortado pela metade, a coisa passou a interessar mais. O trio tem garantido tocar, todo ano, nas principais salas
de concerto do mundo."
Meneses começou a ensaiar com
o Beaux Arts em junho. O grupo
tocou em Chicago, Ottawa e na
Coréia, e tem agendada para o final do ano a primeira grande turnê
pela Europa e EUA. Em agosto de
99, o trio deve vir ao Brasil.
O violoncelista atribui ao "destino" sua entrada no Beaux Arts.
No ano passado, Menahem Pressler, pianista e líder do grupo, substitui Ida Kavafian (violino) e Peter
Wiley (violoncelo).
Para a nova formação, ele convidou o violinista coreano Young
Uck Kim, dando carta branca para
que este escolhesse o violoncelista
do grupo, já que, no entender de
Pressler, os instrumentistas de
cordas tinham de se dar bem. E
Kim acabou chamando Antonio
Meneses, seu amigo de longa data.
Entrando no Beaux Arts Trio,
que tem contrato de exclusividade
com a Philips, Meneses tem a
chance de voltar ao circuito de
gravações. O violoncelista projetou-se internacionalmente ao fazer, na década de 80, dois discos
com o todo-poderoso maestro
Herbert von Karajan e a Filarmônica de Berlim, pelo selo clássico
Deutsche Grammophon.
Mas Karajan estava idoso, morreu logo em seguida e a relação de
Meneses com a multinacional parou por aí. O violoncelista chegou
a lançar discos por selos de menor
expressão, devendo sair pela Auvidis, ainda este ano, a integral das
obras para violoncelo e orquestra
de Villa-Lobos, com a Orquestra
de La Coruña (Espanha), regida
por Victor Pablo Pérez.
Hoje, Meneses se diz cansado de
gravar CDs de pouca repercussão
por gravadoras pequenas. "Prefiro esperar um pouco mais para
poder fazer o que quero. Não vale
a pena forçar a barra. Ou surge a
necessidade de que eu grave estas
coisas, ou então, paciência. Enquanto não houver essa demanda
do mercado, é melhor não fazer
nada do que gravar um disco que
vai vender só 500 exemplares e depois ser esquecido."
Concerto: Antonio Meneses (violoncelo);
Nelson Freire (piano)
Quando: hoje, às 21h
Onde: Cultura Artística (r. Nestor Pestana,
196, tel. 011/258-3616)
Quanto: de R$ 25 a R$ 50
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