São Paulo, terça, 18 de agosto de 1998

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Brasil recebe seu 'dream team' da música erudita


Os instrumentistas Antonio Meneses e Nelson Freire, que só se apresentam no exterior, formam duo e fazem concerto hoje em SP


IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha

O Cultura Artística abriga hoje o "dream team" da música erudita brasileira. Com brilhantes carreiras solo, o violoncelista Antonio Meneses e o pianista Nelson Freire agora resolveram formar um duo.
O programa traz a "Sonata Op. 5 Nş 2", de Beethoven, a "Sonata em Fá Maior", de Richard Strauss, e a "Sonata em Lá Menor", de Grieg.
Meneses e Freire tocaram juntos pela primeira vez na década de 70. Na época, o violoncelista era um "teen" desconhecido que acabara de voltar da Europa, enquanto Freire já havia vencido concursos internacionais de piano e tinha uma carreira estabelecida.
"A minha professora na época achou que eu deveria mostrar o que tinha aprendido na Europa, mas a gente não tinha dinheiro para pagar um bom pianista", conta Meneses.
"Acontece que ela tinha uma sobrinha que era amiga do Nelson e acabou fazendo o contato. Foi um gesto muito bonito da parte dele aceitar, porque eu ainda era muito jovem e ele já tinha uma carreira internacional", diz.
Os artistas mantiveram pouco contato depois disso, e a idéia de voltarem a tocar juntos só apareceu em 95. O teste foi uma pequena turnê na França, cujo sucesso convenceu-os a continuar a experiência.
Dos dois, quem tem grandes novidades a contar é Meneses. O violoncelista é o mais novo integrante do Beaux Arts Trio, uma das melhores e mais tradicionais formações de câmara do planeta.
"No começo, pensei em não aceitar, porque não combinaria com minha carreira de solista. O trio fazia entre cem e 120 concertos por ano, e não iria sobrar tempo para mais nada", conta.
"Depois, quando me disseram que esse número seria cortado pela metade, a coisa passou a interessar mais. O trio tem garantido tocar, todo ano, nas principais salas de concerto do mundo."
Meneses começou a ensaiar com o Beaux Arts em junho. O grupo tocou em Chicago, Ottawa e na Coréia, e tem agendada para o final do ano a primeira grande turnê pela Europa e EUA. Em agosto de 99, o trio deve vir ao Brasil.
O violoncelista atribui ao "destino" sua entrada no Beaux Arts. No ano passado, Menahem Pressler, pianista e líder do grupo, substitui Ida Kavafian (violino) e Peter Wiley (violoncelo).
Para a nova formação, ele convidou o violinista coreano Young Uck Kim, dando carta branca para que este escolhesse o violoncelista do grupo, já que, no entender de Pressler, os instrumentistas de cordas tinham de se dar bem. E Kim acabou chamando Antonio Meneses, seu amigo de longa data.
Entrando no Beaux Arts Trio, que tem contrato de exclusividade com a Philips, Meneses tem a chance de voltar ao circuito de gravações. O violoncelista projetou-se internacionalmente ao fazer, na década de 80, dois discos com o todo-poderoso maestro Herbert von Karajan e a Filarmônica de Berlim, pelo selo clássico Deutsche Grammophon.
Mas Karajan estava idoso, morreu logo em seguida e a relação de Meneses com a multinacional parou por aí. O violoncelista chegou a lançar discos por selos de menor expressão, devendo sair pela Auvidis, ainda este ano, a integral das obras para violoncelo e orquestra de Villa-Lobos, com a Orquestra de La Coruña (Espanha), regida por Victor Pablo Pérez.
Hoje, Meneses se diz cansado de gravar CDs de pouca repercussão por gravadoras pequenas. "Prefiro esperar um pouco mais para poder fazer o que quero. Não vale a pena forçar a barra. Ou surge a necessidade de que eu grave estas coisas, ou então, paciência. Enquanto não houver essa demanda do mercado, é melhor não fazer nada do que gravar um disco que vai vender só 500 exemplares e depois ser esquecido."


Concerto: Antonio Meneses (violoncelo); Nelson Freire (piano) Quando: hoje, às 21h Onde: Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616) Quanto: de R$ 25 a R$ 50


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