São Paulo, Quarta-feira, 18 de Agosto de 1999
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TEATRO
"S.O.S. Brasil", que trata dos problemas da saúde pública no país, está a partir de hoje na Faap, em SP
Antonio Ermírio estréia sua segunda peça

Divulgação
O elenco da peça; Mayara Magri (sentada) faz Terezinha de Jesus, cearense que vai se tratar em São Paulo


NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Duas semanas atrás, o autor, diretor e ator Marcos Caruso atendeu à ligação no celular com a voz angustiada. Estava no meio de um ensaio de "S.O.S. Brasil", a nova peça do empresário Antonio Ermírio de Moraes, e não sabia o que fazer. A peça estréia hoje.
A ligação era para marcar uma entrevista, e ele disse, depois, que estava num beco da montagem, procurando a saída.
"Uma hora e meia dentro de um hospital, tratando de um único tema", disse na entrevista, ainda angustiado. "O ambiente hospitalar é frio, os enfermeiros, a doença".
Falando sem esperar pergunta, quase desabafando, Caruso não tinha um discurso organizado: "É um espetáculo muito atípico. Eu tenho toda uma preocupação de não deixar ele cair na desesperança. Você não tem a relação humana de "Brasil S.A.'".
"Brasil S.A." foi a primeira peça de Antonio Ermírio, três anos atrás, sobre as dificuldades de um empresário no Brasil. "Os personagens agora não têm vida passada", prosseguiu Caruso. "É difícil, porque a relação agora é com um prédio, uma instituição".
O diretor parece falar o tempo todo, indiretamente, da relação com o dramaturgo Antonio Ermírio de Moraes. O homem mais rico do Brasil, segundo a revista "Forbes", é um enigma para o homem de teatro Marcos Caruso. E para o teatro brasileiro todo: escreveu uma primeira peça, uma segunda -e não pára mais. Já está na terceira, sobre educação.

União e Olho Vivo
Para Caruso, é especialmente difícil. Ele comemora com "S.O.S. Brasil" os seus 25 anos de carreira. Começou no mais autenticamente proletário dos grupos teatrais de São Paulo: o União e Olho Vivo, até hoje uma companhia orgulhosamente de periferia. Aos 47 anos, um quarto de século depois, Caruso dirige uma peça de um dos mais conhecidos bilionários brasileiros.
Em seu segundo texto, Antonio Ermírio já tem de ser tratado como um colega. E é o que tenta fazer o diretor, identificando, um pouco mais calmo no fim da entrevista, aquilo em que o dramaturgo avançou -e o muito que ainda falta para o artista Antonio Ermírio.
"Quando ele começou", diz Caruso, que também dirigiu e sugeriu as muitas mudanças da primeira peça, "ele misturava TV, cinema, literatura, tudo, menos teatro. Não havia conflito nem psicologia dos personagens. O que evoluiu, então, foi o fato de saber o que é um conflito, o que é ação. Não verticalizar, não ficar no discurso. O grande ganho foi esse."
Mas ainda estão lá os sinais do cinema, da TV? "Ele criou esse vício, "cortar para". Você não tem uma sequência mínima de espaço e tempo, de que o teatro precisa."
E o maniqueísmo da primeira peça? "Tem sim. Ele fala dos políticos, dos que malversam o dinheiro público. E tem um personagem que recebe castigo. Eu falei que não ia dar, mas ele não quer mexer".

Terezinha de Jesus
O personagem principal de "S.O.S. Brasil" é Terezinha de Jesus, que vive numa cidade do Ceará que não tem escola, posto médico nem farmácia. Doente, ela viaja para São Paulo, que vê como "o único santo ao qual ainda pode apelar". A imagem é feita por ela mesma, na peça.
Vai para um hospital público, mas ele está sendo minado financeira e administrativamente por um político e uma enfermeira corrupta. Eles boicotam uma nova supervisora, que acaba exonerada. O hospital entra em greve. Terezinha vai para outro hospital e consegue se curar, em parte. Mas volta para o Ceará cega.
Aparecem outros personagens, mais cômicos, no drama "frio" do hospital, como um general (Rubião) e um sindicalista (Camarão), obrigados a dividir um quarto, e a enfermeira Ambrosina.


Peça: S.O.S. Brasil Autor: Antonio Ermírio de Moraes Direção: Marcos Caruso Com: Mayara Magri (Terezinha de Jesus), Luiz Guilherme (dr. Praxedes), Rogério Fróes (Camarão), Karin Rodrigues (dra. Mercedes), Jandir Ferrari (dr. Silveira) e outros Quando: de qui. a sáb. às 21h; dom. às 19h. Estréia hoje, às 21h, só para convidados Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/3662-1992) Quanto: de R$ 20 a R$ 30

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