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OUTRA FREQUÊNCIA
Sexta-feira 13 com o padre vidente da FM
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em outras rádios, candidatos prometem de tudo no horário eleitoral. Na pirata 90,1 FM, a Planeta 90, a propaganda política obrigatória não vai ao ar, mas o
padre vidente Francisco Silva
também faz promessas: uma consulta com ele "resolve todos os
seus problemas, cura frieza sexual, desfaz trabalhos e traz a pessoa amada em poucos dias".
A estação, criada em 98, toca
música popular. Já foi fechada seis
vezes pela Polícia Federal e Francisco Sales Silva, que se auto-intitula padre vidente, preso. No ar, a
propaganda não pára: "Marque
uma consulta". Esta coluna decidiu
"se consultar". Quanto custa? "R$
20. Ele põe o nome na gruta e
ora." Marcamos para sexta.
É uma escadaria numa portinha
entre dois açougues, debaixo de
um viaduto. Uma placa diz: "Igreja Católica Santa Missões". Lá em
cima, um salão com 300 cadeiras
voltadas para um altar pintado de
amarelo, roxo, azul e laranja. Ao
lado, loja de produtos "religiosos". Na parede, lista dos "dizimistas" e um cartaz com 25 razões
para pagar o dízimo: "Porque
quero ter a consciência tranquila,
porque meu salário não será posto em um saco furado...".
Umas 20 pessoas esperavam a
"consulta", metade para as 10h.
Uma secretária chegou às 10h40.
Recebeu os R$ 20 de cada fiel, que
colocava a mão direita sobre um
papel para ela fazer o contorno
com caneta. "Entrega pro padre."
A missa começava. "Nesta sexta-feira 13, macumbeiros farão sacrifício até com sangue de gente",
dizia o padre, não o Francisco Silva, para os cerca de 200 fiéis.
"Sua vez." Um garoto de 20 e
poucos anos, batina dourada rasgada, atendeu numa sala, nos fundos da igreja. Francisco Silva?
"Não, padre Marcos." Viu a mão
no papel. "Qual é o problema?"
Pela tangente: "Uma amiga pediu
para eu vir. O marido é alcoólatra". "Feche os olhos. Em nome
do senhor..." E rezou por segundos. "Vi uma baiana enterrando
três garrafas de cachaça com a boca pra baixo. Esse homem era pra
estar morto. Mande sua amiga vir.
Digo o nome de quem fez o trabalho. Vá com Deus."
A coluna tentou falar com Francisco Silva, ontem, por telefone. A
secretária, Clarice, disse que ele
não iria comentar e que a rádio
não era dele. A Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicação)
diz que ele é o responsável pela
FM. "Essa emissora não outorgada já foi interrompida seis vezes.
Responde a vários inquéritos,
mas a impunidade impera. Já representamos criminalmente novamente. Estamos aguardando a
PF requisitar nosso apoio", respondeu a Anatel, responsável pela
fiscalização de rádios piratas.
Só para fixar: "A impunidade
impera". Palavra da Anatel.
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