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O PRECURSOR
Efeito "Ed Wood': a síndrome do trash movie
JOSÉ MOJICA MARINS
especial para a Folha
Os mais desinformados chamam
qualquer filme de terror de
"trash". Não é bem assim. O termo
originalmente refere-se a filmes
que, por um motivo ou outro, não
deram certo e ficaram involuntariamente engraçados.
Quando um cineasta trabalha
praticamente sem recursos, nem
sempre é possível realizar o que se
deseja. É nesse momento que a genialidade e o improviso podem salvar uma fita. O cineasta realmente
talentoso supera as dificuldades e
consegue imprimir seu estilo.
Muitos diretores de cinema estão
surgindo nos rincões do Brasil, incluindo uma nova geração nordestina. Mas esses gênios em potencial
infelizmente sofrem aquele velho
preconceito, vítimas também do
descaso de grande parte do público
e imprensa, que prefere tachar pejorativamente suas obras de "lixo".
Pouca gente sabe, mas Coppola
iniciou sua carreira dirigindo filmes eróticos baratíssimos. Robert
Rodriguez chamou a atenção com
"El Mariachi" e imediatamente foi
seduzido pelos dólares de Hollywood. São gênios que tiram leite de
pedra. Quando trabalham com orçamentos maiores, podem mostrar do que são capazes.
Ed Wood não teve essa sorte. O
famigerado "pior cineasta da história" sofreu todo tipo de privações enquanto viveu. Mas sua paixão pura pelo cinema originou alguns filmes muito divertidos.
Mas Ed jamais teve a oportunidade para mostrar do que seria capaz de fazer com um orçamento
mais generoso. Em fim de carreira,
foi obrigado a se render a humilhantes produções pornográficas.
O Ed Wood de hoje pode ser o
Spielberg de amanhã. Tudo que ele
precisa é de uma chance. Um pouquinho de dinheiro também não
atrapalharia...
O Brasil também tem seus pequenos "Ed Woods". Em Brasília,
temos o bombeiro-cineasta Afonso Brazza e seus filmes de ação com
títulos inacreditáveis como "Índios Navarros em Trevas de Pistoleiros entre Sexo e Violência". Pelo
país, outros amantes da sétima arte
aventuram-se a realizar filmes baratos, mas muito originais.
Nunca admiti que meus filmes
fosse rotulados como "lixo". Ao
longo de minha carreira, sempre
me esforcei ao máximo para realizar obras de qualidade sem um
centavo no bolso. Levando-se em
conta o sucesso e a popularidade
dos filmes de Zé do Caixão, acredito que tenha me saído bem. Trash
mesmo só fiz quando me aventurei
pelo cinema erótico.
"24 Horas de Sexo Explícito" foi
rodado em uma semana, gastando
o mínimo possível. No final dos
anos 70, me vi envolvido com outra autêntica bomba: "A Deusa de
Mármore", que ultrapassou o limite aceitável do trash e descambou
para o lixão puro e simples. Quando percebi o abacaxi que me esperava, tratei de saltar da cadeira de
diretor e participei discretamente
apenas como ator, só para não
contrariar a estrela da fita, Rosângela Maldonado, que assumiu pessoalmente a direção.
Briguei muito para que a vaidosa
coroa Rosângela aceitasse que meu
personagem, o capeta em pessoa,
tivesse ao lado algumas diabinhas
formosas. Inferno só com macho,
para mim, não dá pé! Seria muito
trash para cabeça!
²
José Mojica Marins é cineasta.
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