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CINEMA - ESTRÉIAS
"Mary" inaugura estilo charmoso/grosseiro
BIA ABRAMO
especial para a Folha, em Berkeley
Ano passado, a surpresa do verão
foi um filme pequeno e despretensioso, "Full Monty". Este ano a
"surpresa" foi uma aposta mediana dos grandes estúdios querendo
parecer filme pequeno e despretensioso. Se isso estabelece algum
tipo de tendência, pobre 1998...
"Quem Vai Ficar com Mary?"
inaugura uma espécie de estilo: comédia grosseira e charmosa. Por
mais paradoxal que pareça, funcionou para o público norte-americano -provavelmente porque
tem um elenco (o casal Cameron
Diaz e Matt Dillon, além de Ben
Stiller) que atenua de certa forma a
mão pesada dos irmãos Peter e
Bob Farrelly, de "Debi & Lóide".
E, nesse caso, pesado significa
que, além de ter certas passagens
capazes de fazer o povo do "Casseta e Planeta" corar, não há uma gag
que suponha de inteligência.
Não que humor estúpido não tenha seus méritos ou que a sutileza
seja mais engraçada, mas o caso é
que aqui a insistência no repertório de grosseria acaba por produzir
o efeito contrário, o tédio.
E o pior é que, no meio disso tudo, há um esqueleto central que
tenta aproximar "Mary?" de uma
comédia romântica. Ted (Ben Stiller) apaixona-se por Mary (Cameron Diaz), a garota mais linda e doce da escola, e sofre um acidente
envolvendo o zíper da calça na única noite em que vão sair juntos.
Anos mais tarde, ele continua
pensando em Mary e pede ajuda a
um detetive particular (Matt Dillon), que por sua vez decide também apaixonar-se pela moça e tenta seduzi-la ouvindo suas conversas e fazendo-se passar pelo "homem dos sonhos" de Mary. (Essa
tentativa de sedução do detetive é
uma espécie de versão da história
de Woody Allen e Julia Roberts em
"Todos Dizem Eu Te Amo".)
Na verdade, o paradoxo lá em cima é só um meio paradoxo, pois
nem bem a grosseria é real, uma
vez que as piadas ginasianas envolvendo genitais, masturbação e retardados como que adornam às
avessas um roteiro convencional e
ralo. E nem bem o charme ultrapassa o padrão propaganda de vermute, limitando-se a exibir Cameron Diaz, em todos os ângulos, como uma espécie de antídoto estético à grosseria reinante.
O que faz pensar que há algo, sim
-não a respeito de Mary, mas a
respeito do cinemão hollywoodiano, que cada vez mais se contenta
em oferecer cada vez menos.
²
Filme: Quem Vai Ficar com Mary?
Produção: EUA, 1998
Direção: Peter e Bobby Farrelly
Com: Ben Stiller, Cameron Diaz e Matt Dillon
Quando: a partir de hoje, nos cines
Ibirapuera 1, Iguatemi 1 e circuito
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