São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998

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CINEMA - ESTRÉIAS
"Mary" inaugura estilo charmoso/grosseiro

BIA ABRAMO
especial para a Folha, em Berkeley

Ano passado, a surpresa do verão foi um filme pequeno e despretensioso, "Full Monty". Este ano a "surpresa" foi uma aposta mediana dos grandes estúdios querendo parecer filme pequeno e despretensioso. Se isso estabelece algum tipo de tendência, pobre 1998...
"Quem Vai Ficar com Mary?" inaugura uma espécie de estilo: comédia grosseira e charmosa. Por mais paradoxal que pareça, funcionou para o público norte-americano -provavelmente porque tem um elenco (o casal Cameron Diaz e Matt Dillon, além de Ben Stiller) que atenua de certa forma a mão pesada dos irmãos Peter e Bob Farrelly, de "Debi & Lóide".
E, nesse caso, pesado significa que, além de ter certas passagens capazes de fazer o povo do "Casseta e Planeta" corar, não há uma gag que suponha de inteligência.
Não que humor estúpido não tenha seus méritos ou que a sutileza seja mais engraçada, mas o caso é que aqui a insistência no repertório de grosseria acaba por produzir o efeito contrário, o tédio.
E o pior é que, no meio disso tudo, há um esqueleto central que tenta aproximar "Mary?" de uma comédia romântica. Ted (Ben Stiller) apaixona-se por Mary (Cameron Diaz), a garota mais linda e doce da escola, e sofre um acidente envolvendo o zíper da calça na única noite em que vão sair juntos.
Anos mais tarde, ele continua pensando em Mary e pede ajuda a um detetive particular (Matt Dillon), que por sua vez decide também apaixonar-se pela moça e tenta seduzi-la ouvindo suas conversas e fazendo-se passar pelo "homem dos sonhos" de Mary. (Essa tentativa de sedução do detetive é uma espécie de versão da história de Woody Allen e Julia Roberts em "Todos Dizem Eu Te Amo".)
Na verdade, o paradoxo lá em cima é só um meio paradoxo, pois nem bem a grosseria é real, uma vez que as piadas ginasianas envolvendo genitais, masturbação e retardados como que adornam às avessas um roteiro convencional e ralo. E nem bem o charme ultrapassa o padrão propaganda de vermute, limitando-se a exibir Cameron Diaz, em todos os ângulos, como uma espécie de antídoto estético à grosseria reinante.
O que faz pensar que há algo, sim -não a respeito de Mary, mas a respeito do cinemão hollywoodiano, que cada vez mais se contenta em oferecer cada vez menos.
²

Filme: Quem Vai Ficar com Mary?
Produção: EUA, 1998
Direção: Peter e Bobby Farrelly
Com: Ben Stiller, Cameron Diaz e Matt Dillon Quando: a partir de hoje, nos cines Ibirapuera 1, Iguatemi 1 e circuito




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