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ARTES PLÁSTICAS
Começa hoje no Museu Guggenheim exposição com o trabalho multimídia do artista pop
Factory de Warhol ganha filial em Bilbao
CARLOS ADRIANO
especial para a Folha
Bilbao está pop. Inaugura-se
hoje, no Museu Guggenheim espanhol, "Andy Warhol: A Factory", exposição multidisciplinar
e monumental que avalia o legado
do artista americano de origem
eslovaca nascido Andrew Warhola (1928-87).
Ele chamou de "Fábricas" os
três estúdios que teve ao longo da
vida, usinas de agitação industrial
e iconoclasta, arregimentando
pintura, filme, fotografia, moda,
escultura, desenho, publicidade,
vídeo, música. Cada fase liga-se a
um lugar: 47th Street (63), Union
Square (68) e 860 Broadway (74).
Com papéis de parede criados
pelo próprio Warhol (Mao Tse-Tung, Vacas, Peixes) forrando as
imensas paredes, a exposição é
um vertiginoso labirinto pop,
com amostragem espetacular e
sem precedentes desta obra que
mixou arte e massa, dos 50 aos 80.
São mais de 600 peças, entre
material original (obras de arte) e
serial (objetos de consumo) que
ilustram o modo de produção do
artista, sua indústria e ideologia.
Organizada pela fundação Guggenheim, a mostra exibe retratos
e auto-retratos ("camouflages"),
gravuras de celebridades (Marilyn Monroe, Truman Capote),
arte abstrata ("Oxidations",
"Rorschach"), anúncios, reapropriações da história da arte ("Mona Lisa", "Última Ceia"), arte gráfica e moda ("Harper's Bazaar"),
publicações ("Interview"), programas de vídeo e televisão, séries
serigráficas ("Mao", "Martelos e
Foices", "Caveiras", "Dólares",
"Sapatos"), a música do Velvet
Underground e o cinema.
O programa de filmes inclui
"extravagâncias" como "Sleep"
(1963), um homem dormindo numa imagem que dura mais de 5
horas, e "Empire" (1964), plano fixo de 8 horas do Empire State
Building. Na linha de montagem
criou "Superstars" como Edie
Sedgwick, Taylor Mead, Ondine e
Viva (Susan Hoffmann).
Outras curiosidades são o faroeste gay "Lonesome Cowboys"
(1967/68), os diários domésticos e
os "Screen Tests" com Mario
Montez, Gerard Malanga, Amy
Taubin e Susan Sontag.
Entre a farta memorabilia, um
Mao monumental, cartazes de
shows de Nico e Mothers of Invention, serigrafias de Judy Garland e Debbie Harry, a guitarra
Gibson de Sterling Morrison, um
vestido de papel ("Open this
End"), fotos de bastidores, capas
de disco (jazz, Velvet e Nico, Rolling Stones), caixas de produtos
(Brillo, Kellogg's, Campbell).
Após Bilbao, a mostra vai para
Porto e termina em Nova York,
como parte do programa do milênio do Guggenheim, no ano 2000.
História
No playground pop-conceitual
que se instalou em Bilbao e Viena,
talvez não caibam juízos de valor
sobre Warhol. Sua arte foi confundir esses estatutos na sociedade (e escala) industrial e explicitar
a cultura da repetição.
Foi diluição pop de dadá e Walter Benjamin (fim da aura da obra
de arte na época da reprodução
em massa). E daí? A mais-valia de
seu jogo está no lance ousado (intenções éticas e comerciais à parte) de massificar a vida e a arte.
Se Baudelaire sinalizou o mal-estar sob a pressão técnica, Warhol fez do dilema um fetiche e celebrou o culto. Assim, vale pensar
sobre a justaposição que se exibe:
obras "originais" e "comerciais".
Não é à toa que a Factory foi
fundada em 1963, quando Warhol se tornou imã para artistas,
celebridades, socialites e marginais do underground.
Em 1965 decidiu devotar-se ao
cinema e abandonar a pintura, ao
apresentar pela primeira vez o
Velvet Underground, afirmando
o descaso por quadros e o desejo
de combinar música, arte e cinema (disse preferir pendurar um
vestido a uma pintura na parede).
Em 1968 levou um tiro de Valerie Solanas e passou a fazer a farra
na revista "Interview". No início
dos 70, pintou ícones políticos comunistas. No fim dos 70, fez "Dez
Retratos Judeus do Século 20"
(Gertrude Stein, Kafka, Einstein,
Gershwin, Freud, Irmãos Marx),
colaborou com jovens artistas
(Basquiat e Clemente) e produziu
programas para televisão a cabo.
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