São Paulo, Segunda-feira, 18 de Outubro de 1999
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Gunter Grass faz de Frankfurt final de Copa do Mundo

do enviado a Frankfurt

Parecia a final de uma Copa do Mundo. De um lado, o público, que teve acesso à Feira de Livros de Frankfurt pela primeira vez nesse fim-de-semana. Do outro, Gunter Grass.
A taça já estava ganha, já que o escritor alemão recebeu o anúncio da vitória do Nobel no dia 30 de setembro. Mas era a primeira chance de a torcida aplaudir o "campeão".
Quando Grass chegou próximo do estande de sua editora, a acanhada Steidl, a massa de admiradores e curiosos começou a se movimentar em bloco, como se todo o corredor da Feira fosse um ônibus lotado de São Paulo.
Esbaforido, carregando o seu cachimbo de sempre, o escritor foi brindado com tambores ("O Tambor" é seu romance mais importante) e com uma corneta desafinada.
Aos poucos, um igualmente desafinado "Parabéns a Você", versão germânica, claro, começou a brotar do público, até virar tudo um grande e ruim coral. É que Grass completava 72 anos no sábado. A balbúrdia só virou silêncio quando o escritor sinalizou que falaria. E disse: "Normalmente, comemoro aniversários em família. Hoje é como se o fizesse em uma família aumentada". Montes de aplausos, naturalmente.
Grass, que pela programação distribuída ficaria pelo menos uma hora no estande, logo tirou o time de campo. Como o escritor saiu por trás, a maior parte da legião de caçadores de autógrafos continuou ali.
Os que conseguiam chegar perto das prateleiras de livros folheavam uma edição de luxo da mais recente obra do escritor, "Meu Século", ilustrada com 99 aquarelas de excelente qualidade pintadas pelo próprio Grass.
Lançado há três meses, "Meu Século", que a editora Record publica no Brasil no começo do ano 2000, já vendeu na Alemanha quase 500 mil exemplares (da edição comum).
"Imprimimos que nem loucos e tudo o que imprimimos, vendemos", disse à Folha Konstantin Klapp, da editora Steidl. Ao seu lado, uma funcionária do estande pendurava uma faixa: "Gunter Grass não está aqui".

Ciganos
Não estava lá, mas já caminhava para outro evento público. Com longa trajetória de comprometimento com questões humanitárias, Grass participou de um ato organizado pela Sociedade para a Defesa dos Povos Ameaçados, que pedia apoio aos ciganos de Kosovo. Mais uma vez, o Nobel de Literatura foi saudado com música. Novamente desafinada. Era um violinista cigano.
"Os ciganos estão sendo perseguidos. E não apenas na Albânia. O preconceito está em toda a Europa, desde a Rússia até a Espanha", disse. O escritor pediu que todos os seus leitores respeitassem os ciganos. "Eles foram os primeiros europeus autênticos, já que há muito tempo aboliram as fronteiras nacionais."
Grass disse que, em breve, viajará para Kosovo para dar apoio aos ciganos e que está criando uma fundação para defendê-los. Antes, porém, terá de ir a Estocolmo, buscar o Nobel e um cheque de cerca de US$ 1 milhão.
(CEM)


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