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Gunter Grass faz de Frankfurt final de Copa do Mundo
do enviado a Frankfurt
Parecia a final de uma Copa do
Mundo. De um lado, o público,
que teve acesso à Feira de Livros
de Frankfurt pela primeira vez
nesse fim-de-semana. Do outro,
Gunter Grass.
A taça já estava ganha, já que o
escritor alemão recebeu o anúncio da vitória do Nobel no dia 30
de setembro. Mas era a primeira
chance de a torcida aplaudir o
"campeão".
Quando Grass chegou próximo
do estande de sua editora, a acanhada Steidl, a massa de admiradores e curiosos começou a se
movimentar em bloco, como se
todo o corredor da Feira fosse um
ônibus lotado de São Paulo.
Esbaforido, carregando o seu
cachimbo de sempre, o escritor
foi brindado com tambores ("O
Tambor" é seu romance mais importante) e com uma corneta desafinada.
Aos poucos, um igualmente desafinado "Parabéns a Você", versão germânica, claro, começou a
brotar do público, até virar tudo
um grande e ruim coral. É que
Grass completava 72 anos no sábado. A balbúrdia só virou silêncio quando o escritor sinalizou
que falaria. E disse: "Normalmente, comemoro aniversários em família. Hoje é como se o fizesse em
uma família aumentada". Montes
de aplausos, naturalmente.
Grass, que pela programação
distribuída ficaria pelo menos
uma hora no estande, logo tirou o
time de campo. Como o escritor
saiu por trás, a maior parte da legião de caçadores de autógrafos
continuou ali.
Os que conseguiam chegar perto das prateleiras de livros folheavam uma edição de luxo da mais
recente obra do escritor, "Meu Século", ilustrada com 99 aquarelas
de excelente qualidade pintadas
pelo próprio Grass.
Lançado há três meses, "Meu
Século", que a editora Record publica no Brasil no começo do ano
2000, já vendeu na Alemanha
quase 500 mil exemplares (da edição comum).
"Imprimimos que nem loucos e
tudo o que imprimimos, vendemos", disse à Folha Konstantin
Klapp, da editora Steidl. Ao seu
lado, uma funcionária do estande
pendurava uma faixa: "Gunter
Grass não está aqui".
Ciganos
Não estava lá, mas já caminhava
para outro evento público. Com
longa trajetória de comprometimento com questões humanitárias, Grass participou de um ato
organizado pela Sociedade para a
Defesa dos Povos Ameaçados,
que pedia apoio aos ciganos de
Kosovo. Mais uma vez, o Nobel
de Literatura foi saudado com
música. Novamente desafinada.
Era um violinista cigano.
"Os ciganos estão sendo perseguidos. E não apenas na Albânia.
O preconceito está em toda a Europa, desde a Rússia até a Espanha", disse. O escritor pediu que
todos os seus leitores respeitassem os ciganos. "Eles foram os
primeiros europeus autênticos, já
que há muito tempo aboliram as
fronteiras nacionais."
Grass disse que, em breve, viajará para Kosovo para dar apoio aos
ciganos e que está criando uma
fundação para defendê-los. Antes, porém, terá de ir a Estocolmo,
buscar o Nobel e um cheque de
cerca de US$ 1 milhão.
(CEM)
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